
É hora de parar um pouco, nesta quadra que foi a Festa da Família e hoje é pouco mais que a festa do consumismo.
Por isso, paramos, por uns dias este nosso agradável exercício do contacto diário com os nossos leitores.
Deixamo-vos, pois, com alguma pena, mas quereria que o fosse também com os votos sinceros de que tudo fosse bom…
Mas nem sempre nos saem as palavras certas porque as outras, as eternamente repetidas por toda a gente, têm o sabor artificial da comida requentada.
Queria usar palavras novas, palavras capazes de vos dizer tudo o que me vai na alma, mas essa é a mensagem que deveria ser a de todos os dias: aquela que sai em silêncio de nossos corações e aquece com ternura os corações daqueles que nos acompanham em nossa caminhada pela vida.
É essa mensagem que vos quero oferecer.
Mas porque o tempo de Natal é também um tempo de reflexão, vou deixar-vos com um poema dorido de Álvaro Feijó, um poeta filósofo nascido naquelas terras frias onde irei passar o meu Natal.
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Nasceu.
Foi numa cama de folhelho
entre lençóis de estopa suja,
num pardieiro velho.
Trinta horas depois, a mãe pegou na enxada
e foi roçar nas bordas dos caminhos
manadas de ervas
para a ovelha triste.
E a criança ficou no pardieiro
só com o fumo negro das paredes
e o crepitar do fogo,
enroscada num cesto de vindimeiro,
que não havia berço naquela casa.
E ninguém conta a história do menino
que não teve
nem magos a adorá-lo,
nem vacas a aquecê-lo,
mas que há-de ter
muitos Reis da Judeia a persegui-lo,
que não terá coroas de espinhos
mas coroa de baionetas,
postas até ao fundo
do seu corpo.
Ninguém há-de contar a história do menino.
Ninguém lhe vai chamar o Salvador do Mundo.
ÁLVARO FEIJÓ (1916 / 1941)
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