lc: vocês viram por aí a oposição?
Depois das eleições de Outubro passado, o PSD/Loulé saiu reforçado em todos os aspectos. Com maioria absoluta na Câmara e na Assem-bleia, a vontade política do PSD pode manifestar-se de forma absolu-ta. Ou de forma arrogante, se o quiser ou quando o quiser. Não precisa, mas pode fazê-lo. Tal como Sócrates o fez no seu primeiro mandato. Com a razão da força e nem sempre com a força da razão.
Quanto à oposição, essa perdeu a força. Pode não ter perdido a razão. Ao contrário, tem agora a oportunidade de se afirmar, se não como dona de uma política e de uma estratégia alternativa, pelo menos como a consciência crítica do poder autárquico.
Mas quem é a oposição?
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O PS apresentou, como candidato às eleições do município, um candidato forte. Forte, experiente, um dos dinossáuricos «animais políticos», mas perfeitamente desacompanhado, em roda livre e autónoma.
Por opção sua ou por opção das estruturas locais, na sua lista só ele tinha força e experiência política. O resto da sua lista era, se me é permitido dizê-lo, uma lista fraca, inexperiente, sem recursos. Acima de tudo, pouco convincente.
Vairinhos «saiu da carroça» e deixou as segundas linhas. Impossível que os que ficaram se pudessem constituir como consciência crítica.

Na Assembleia, quase o mesmo vácuo: Jamila Madeira e Hugo Nunes têm experiência política quanto baste. Terão capacidade, argumen-tos e dialéctica suficientes para enfrentar um PSD aguerrido, arro-gante e voraz? Acresce que arrastam o problema de não terem sido as primeiras escolhas algarvias na lista de deputados e de terem saído claramente derrotados. Fragilizados, pois.
Além disso, não têm mais ninguém atrás de si capaz de assumir a camisola de uma oposição a valer, na Assembleia Municipal.
Sobretudo, a partir do 5º elemento, só um vazio de gente oca ou talvez apenas cheia de si, de cada vez que olha para o seu próprio umbigo. Cinco elementos que, por junto… Melhor que não falemos nisso.
Mas, desta vez, a oposição tem mais duas forças na Assembleia. Duas? Bem, Farrajota, do CDS, nunca será oposição. Não conta para este discurso.
Resta o Bloco e a voluntariosa capacidade de Carlos Martins. Mas chegará?
Para já, chega. Ou tem chegado para se constituir, sozinho, um verdadeiro líder da oposição. Para além do facto de contar com quem lhe ajude, empenhadamente, a fazer um trabalho de casa, Martins tem um poder interior que se chama «convicção firme».
Pode parecer estranho que se diga que uma força política que não tem na vereação qualquer elemento, e que na Assembleia Municipal só conta com um deputado, seja considerada na liderança da oposição ao poder de Seruca Emídio e Patinha Antão.
Não é nada estranho!
Veja-se o exemplo: Antes de apresentar o Orçamento e as Grandes Opções do Plano, o executivo social-democrata chamou as forças da oposição e propôs-lhes que apresentassem sugestões. O que se passou a seguir deixou de ser confidencial a partir do momento em que a questão foi comentada no seio do PSD:
O CDS balbuciou uma espécie de agradecimento pela atenção e pronto, falemos de outras coisas.
O PS fez a sugestão de umas «coisinhas» sem expressão e que, - “mesmo que realizáveis” (a expressão e respectiva informação vêm «de dentro» do PSD), pouco significariam em termos de desenvolvimento e progresso do concelho ou de bem-estar da população em geral.
Depois, os vereadores socialistas, a «dar uma de oposição», apre-sentaram uma declaração de voto. Dizem que inócua – e é capaz de ter sido, já que o PS/Loulé, sempre lesto em divulgar comunicados para a imprensa, sobre esta, nada disse.
E o Bloco de Esquerda, que fez? Estudou a lição. Levou um punhado de sugestões. Muitas delas a raiar a utopia romântica e irrealizáveis, com certeza. Mas interessantes e condizentes com o seu ideário; e falou sobre iniciativas de cariz social, transportes e mobilidade, reabilitação urbana, energias, planeamento e ambiente e sobre desburocratização e transparência administrativa.
Depois, pegou nessas propostas e escarrapachou-as no seu blog, para que todos as conhecessem.
Seruca Emídio e os seus vereadores não tiveram vontade de rir. Oposição é isto.
* Recebido de um leitor identificado
- Imagens: «Uma história aos quadradinhos», de Galiós