
Quem ouviu o discurso em que o professor Cavaco anunciou a sua recandidatura deve ter ficado «desqueixado» de tanto abrir a boca.
Se eu ouvi bem, Cavaco falou de si como se estivesse a falar de Deus: “Sei bem – disse ele – que a minha magistratura de influência produziu resultados positivos".
E esclareceu que foi ele que “avisou”, “alertou”...
Sócrates (e Teixeira dos Santos) é que não aproveitou desse "conhecimento, experiência, rectidão, serenidade, realismo e bom senso" que Cavaco, omnisciente e magnânimo, pôs à disposição deste desgraçado país!
Que seria desta terra (e de nós todos) se não fosse o "conhecimento, experiência, rectidão, serenidade, realismo e bom senso" e sem a “magistratura de influência” “activa” do homem que, com toda a humildade, nunca se engana e raramente tem dúvidas?
Cavaco nunca teve dúvidas quando distribuiu benesses pelos seus confrades da indústria e da agricultura, quando o dinheiro jorrava da cornucópias de Bruxelas.
Cavaco nunca se enganou quando, em vez de fomentar a modernização das frotas pesqueira e comercial, permitiu o abate indiscriminado de traineiras e mesmo de botes de pesca, ou a fuga para paraísos fiscais das bandeiras da frota comercial.
Cavaco nunca se enganou quando nomeou para o Conselho de Estado gente que desbaratou milhões da banca portuguesa e que em qualquer outro país estaria a contas com a Justiça. Enfim... bons tempos!
Mas estaremos a falar do mesmo Cavaco do "conhecimento, experiência, rectidão, serenidade, realismo e bom senso"? Com este de agora isso nunca teria acontecido.
E veja-se como nos últimos cinco anos – tantos quantos durou a sua “activa magistratura de influência” - o país progrediu: sem ele não estaríamos à beira do abismo...
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