os gajos sem a 4ª classe
podem fazer coisas porreiras
podem fazer coisas porreiras

Ontem mesmo li na primeira página do «Diário de Notícias» que um terço dos investidores na Bolsa só tem a 4ª classe. Fiquei indignado. Indignado porque aquela palavras - «só» - é claramente abusiva e dá a entender que neste país onde eu sobrevivo e tu governas, há gente com poucas habilitações para jogar na Bolsa.
Ora, já não há! Havia, mas veio o programa «Novas Oportunidades» que, a juntar a certas e determinadas Universidades cujo nome não vou aqui citar por falta de tempo, terminou com o analfabetismo real e funcional e tornou-nos a todos um país de doutores e engenheiros… ou quase.
E repara que essas cassandras que põem o «só» no artigo se esquecem das inúmeras coisas que gente sem a 4ª classe fez pelo país. Exemplos são a pontapé:
- D. Afonso Henriques não tinha a 4ª classe e fundou Portugal, além de ter conquistado Lisboa aos mouros;
- D. Diniz, também não a tinha e fez o Pinhal de Leiria e a Universidade de Coimbra, a qual nem sequer dava cursos à noite, na altura;
- D. Henrique fundou a Escola de Sagres sem ter escola nenhuma onde tivesse obtido o diploma da 4ª. classe.
(…) Por isso, caro José Sócrates, numa visão mais ou menos holística da coisa, um povo que, sem a 4ª classe, realizou tanta coisa pode fazer, pelo menos, o dobro depois de ter sido abençoado com as «Novas Oportunidades». Podemos fazer coisas porreiras, pá, como o Tratado de Lisboa, caso os irlandeses não consigam dar cabo da coisa.
Mas ainda há muito para fazer! Havendo gente com a confiança e com a coragem suficiente para, com apenas a 4ª classe, pensar que pode ganhar na Bolsa, há seguramente muita gente por aí a pensar que podes ganhar com maioria absoluta. Independentemente das habilitações que eles e tu possam ter.
Aceita um abraço deste teu
Comendador Marques de Correia
in «Única», revista do «Expresso» de 19/Jul/08
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