O vira do Algarve

tudo se vira nesta terra: da bosta à casaca

O vira era uma dança do Norte animada pelo cavaquinho; a chula, do Minho, bailada ao som dos ferrinhos, da zabumba e dos chocalhos; o corridinho era só do Algarve – animado pelo acordeão.

Mas como no país está tudo de pantanas, não admira que o vira tenha vindo parar ao Algarve.

E, se não é ainda a dança típica da região, pelo menos tem por cá imensos adeptos.

Então, é vê-los a virar… Oh vira que vira, oh vira virou, as voltas do vira, sou eu quem as dou…

Os vira-bosta (Gnorimopsar chopi) viram nos «green» dos golfes algarvios; os vira-latas vadiam por aí, rondando caixotes de lixo e cadelas com cio; os viras-mexes perturbam a paz de todos nós; os vira-casacas… Oh, gente! Nem é bom falar nisso…

Ainda ontem o «Observatório do Algarve» nos dava conta de um, que tem andado por aí, metamorfoseado em vira-mexe, a pôr o turismo algarvio em ebulição e que, depois de várias cambalhotas, acaba de virar a casaca, três meses depois de ter sido mandatário de um outro vira-casacas que abandonou o propósito de ser paladino da cidadania para ser valete laranja, paladino da cupidez e da imodéstia.

Dizia o ex-mandatário (que para ser mandatário já virara a casaca para “não atraiçoar a memória”) que o seu mandante se caracterizava pela “humildade, a honestidade, a ética e a simplicidade”.

Diz agora o mesmo ex-mandatário que o seu ex-mandante “não tem valores”.

Revela o «Observatório» que o virador escreveu que “todos os homens são livres de decidir os caminhos que trilham; mas apesar disso não devíamos deixar de ser reféns dos nossos valores”.

Que valores? Os de agora ou os de há três meses atrás, quando ainda afirmava que "quem não tem memória não tem passado e quem não tem passado não tem futuro”?

Perdeu a memória? Em três meses apenas? Que pena! Do passado, lembramo-nos nós. Quanto ao futuro… vamos ver quantas casacas terá a criatura no guarda-fatos…