Vamos com um ponto prévio: tenho uma auto caravana, como outros milhares de portugueses. Agora, saio pouco com ela: os miúdos estão crescidos e preferem coisas mais «mexidas». A mais velha, pedia-me, há dias, para a deixar ir ao Festival do Sudoeste. É cedo, disse eu. Mas se calhar é só medo o que sinto…
E como a carrinha não é usada, lá vou, de vez em quando, ver se ratos ou outros bicharocos não a tomam como lar próprio. Roubar, é difícil: há anos que está sem rodas.
E a que vem isto? Ah, sim, só queria que soubessem que já fiz auto-caravanismo, saí de Portugal e dei uma voltas por aí e, sabem? – mal passava a fronteira, à entrada dos aglomerados populacionais, lá estava à minha espera o aviso: proibido fazer campismo ou caravanismo. E toda a gente respeitava. E respeita. Quanto mais não seja porque a polícia e os tribunais, lá fora, não são «de brincadeiras».
E não era o único aviso. À entrada de qualquer aldeola, lá estava também o cartaz:
«Proibida a venda ambulante».
Nunca ouvi ninguém protestar contra tais limitações. Porque são justas e porque os países «lá fora» são bem mais civilizados que nós.
Porque cá… é o que se vê: uma cidade que se pretende «turística» e de classe, muda os mercados selvagens para um lugar fechado na periferia. Funciona às 4ªs feira; e nos outros dias todos, o centro da cidade, na principal avenida da cidade, tapando o acesso a um jardim que deveria ser um pulmão verde, eles aí estão, os ambulantes, ciganos aos gritos, tendeiros em esplanadas improvisadas, cadeiras de plástico à volta do fogareiro das sardinhas, estacas cravadas nas calçadas e nos alcatroados que nós pagamos, reservando, com trapos e cadeias, o «seu espaço» e roubando à cidade dezenas e dezenas de lugares de estacionamento.
Isso chegaria para afastar os turistas que procuram qualidade, os que ainda têm dinheiro na carteira.
Mas em Quarteira, não chega. Descontentes porque lhes «roubaram» o camping gratuito no antigo bairro dos pescadores ou no Forte Novo, centenas de caravanistas ocupam os lugares de estacionamento, nivelam as carrinhas, abrem os toldos, fazem a sua esplanada própria e eles aí estão: escorraçados de toda a Europa, encontram em Quarteira a lixeira que lhes recusam «lá fora».
Ontem à tarde, fui espreitar e, no momento preciso em que sacava do telemóvel para registar as cenas, um «campista» decidiu «aliviar águas» ali mesmo, entre duas caravanas de matrícula estrangeira.
Perante o meu olhar reprovador, vociferou não sei o quê num linguajar nazi e lá acabou o serviço.
E que fazem as autoridades, entretanto? Nada! Vêem e fingem que não vêem, passando nos seus carrinhos brancos, em galhofa pegada.
E que fazem os autarcas? Nada! José Mendes já se deve sentir acima destas ninharias, abrigando-se no ar condicionado do gabinete de adjunto do «mayor». Deixou em seu lugar um indivíduo amorfo que dizem que será o seu futuro sucessor (pobre Quarteira, se não merece mais!).
Quanto ao presidente da Câmara… esse não sabe mesmo. Não costuma passear por aqui sem ser rodeado de assessores. E como estes não lhe chamam a atenção… não sabe.
A que estão estes senhores a condenar Quarteira? A uma cidade do Farwest ou a um souk árabe? O mais certo é que façam disto um lugar a evitar por quem quer qualidade e tranquilidade.
Mas deixem estar, que está bem: com o governo a roubar-me desta maneira não tardará muito que não tenha de fechar o meu estabelecimento e talvez tenha de devolver a chave do lar, ao senhorio.
Nessa altura, espero que quem mande em Quarteira sejam os mesmos, para que eu volte a montar as rodas na auto caravana e tenha um lugar para instalar essa residência, sem ter que pagar terrado!
8 comentários:
Comentário provocatório:
Se fosse um jornal (ainda bem que não é) o calçadão deveria entender-se quanto à sua linha editorial. É que o post anterior clama pela ausência de regras para a "sociedade de bem" se divertir no Verão e este post clama por regras para regular os dejectos (pobres) do capitalismo. Talvez o socialismo e a social democracia não andem assim tão longe.
Abraços aos dois
João Martins
Quarteira está onde a metemos todos fomos culpados do que está a acontecer agora só nos resta carpir ou a revola popular.
Já agora e que tal uma barraquinha para vender uns parafusos ferrugentos?. E um dr. para vender banha da cobra, para isso é que eles servem. O Zé Graça a esta hora deve estar a rir como o caraças....
e viva a ciganada!!
Abelha disse...
Mas afinal Quarteira na é só City.E a priferia?
-A fonte Santa abandonada com água limpida a correr noite e dia, é uma pena!
-As linhas de entradas e saídas para as praias do Trafal e Almargem são acessos do 3ºmundo.
-Os ciganos que veem de longe com muitos BURROS, cavalos e mulas permanecem tempo indeterminado para além da lei sobre terrenos particulares onde para além do que deixam sujo, roubam portas e janelas e outros mas ninguem faz algo.
-O Farol de Quarteira foi colocado na Abelheira mas não é visitado pelos politicos responsáveis, encontra-se cheio de pedras de calçada e a própria está danificada, é um bom lugar de lazer mas não está dignificado.
- Lixo é o que mais se vê em terrenos particulares e ninguém actua.
- O prédio novo onde residem vários ciganos tem cães presos perto do prédio que sofrem de sede e fome e ladram de noite e de dia e ninguém lá vai fazer uma visita. Só quando alguma criança ficar doente com vestígios de lesmanhose é que se poderá eventualmente fazer algo, mas já poderá ser tarde porque a dita criança faleceu.
-Prédios abandonados sem resolusão a vista a conspurcar a Cidade
-Outros muitos casos direi para a próxima semana, senão encho o calçadão de tanto desleixo e porcaria, desculpe...
Abelha disse e dirá...
A Abelhe tem razão, as entidades só são boas para passar multas disto, daquilo, mas o que deviam de ver e fazer respeitar, não movem uma palha, sabem porquê? porque dá chatice!
Na zona do Almargem não se pode construir porque é zona verde, por ser zona verde, temos que preservar o muito verde que lá se encontra, é tanto o verde que nenhuma entidade ainda teve a iniciativa de contactar os donos dos terrenos para limparem e deixarem caminho aberto para as águas passarem.
O que acontece... é que há zonas que a água fica retida porque os donos em vez de fazerem sucalcos para as águas passarem endireitam os terrenos, e para agravar a situação ainda tem anos a fio as passagens das águas obstruídas.
Onde estão os GNR's do ambiente, que não vêm isso? e quando vêm não abordam as pessoas para fazerem essa limpeza? e vão verificar se a limpeza foi feita ou não?
Anda a Câmara de Loulé a fazer panfletos a comunicar isso mesmo, mas ninguèm faz nada, ninguém quer saber!
São águas paradas que ali se encontram e que fazem com que prolifarem os mosquitos.
Isto é um atentado à saúde pública, ninguém pode abrir uma janela, não se pode comer na rua, que somos devorados pelos mosquitos.
Com tanta doença que se pode apanhar através deles, ninguém faz nada!
É à portuguesas! " cada um que se desenrasque!
FORÇA, CALÇADÃO!!!!
Calçadão, não deixes morrer este post!!! Recupera-o sempre que se justificar.
A nossa força tem que vir de dentro.
Chega de (todos?) vermos estas múltiplas injustíças consentidas por quem de direito.
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