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sábado, 12 de janeiro de 2008

MOMENTOS ELEGÍACOS

-------------- pequena elegia

Espírito gentil, vem
na voz do sino que chora…
que chora a minha saudade
----------- que nada afoga !

Vem, no suspiro da aragem
que entre a folhagem suspira,
suspira… os ecos remotos
----------- de que suspiros?

Espírito gentil, vem
naquela estrelinha, ao longe,
que ante a minha mesa se ergue
----------- todas as noites!

Vem, no perfume que sobe
dos lírios que à tarde, roxos,
sonham, de roxo vestidos,
----------- quais dos meus sonhos?

Espírito gentil, vem
no rastro do luar nas águas,
que é como um sorrir duns olhos
----------- turvos de lágrimas !

Vem, nos ritmos não dos versos
feitos, mas sim nos daqueles
que nunca acharam palavras
----------- que os escrevessem !

Espírito gentil, vem,
Vem! não posso mais… vem! dá-me
o dom que era nosso – a vida
----------- do meu cadáver !

JOSÉ RÉGIO (1901-1969) in «As encruzilhadas de Deus»

José Régio foi o pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, natural de Vila do Conde, licenciou-se em Filologia Românica, em Coimbra, com a tese «As Correntes e As Individualidades na Moderna Poesia Portuguesa», que valorizava poetas quase desconhecidos nessa altura, como Fernando Pessoa e Mário Sá-Carneiro.

Foi co-fundador da revista «Presença», que foi publicada durante treze anos, marcando o segundo modernismo português. Leccionou, num liceu do Porto e em 1928, passou a leccionar em Portalegre, durante mais do que trinta anos.

Durante esse tempo, publicou ensaios, poesia, textos dramáticos onde sempre ressalto o conflito entre Deus e o Homem, o indivíduo e a sociedade, utilizando sempre um tom psicologista e misticista, analisando a problemática da solidão e das relações humanas. «Cântico negro» pode considerar-se, talvez o expoente do seu estilo e da sua filosofia estética.
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O surpreendente poema que escolhemos para esta semana é um dos menos conhecidos que foram publicados em vida deste genial homem das letras portuguesas.

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