de desespero
Ó alma pura enquanto cá vivias,Alma, lá onde vives, já mais pura,
porque me desprezaste? Quem tão dura
te tornou ao amor que me devias?
Isto era o que mil vezes prometias,
em que minha alma estava tão segura?
Que ambos juntos Da hora desta escura
noite nos subiria aos claros dias?
Como em tão triste cárcer' me deixaste?
Como pude eu sem mi deixar partir-te?
Como vive este corpo sem sua alma?
Ah! que o caminho tu bem mo mostraste,
porque correste à gloriosa palma!
Triste de quem não mereceu seguir-te!
ANTÓNIO FERREIRA (soneto dedicado à morte da esposa)
António Ferreira (1528-1569) nasceu em Lisboa, e estudou Direito na Universidade de Coimbra. Desempenhou o cargo de desembargador, enquan-to cultivava a poesia, sendo o discípulo mais famoso de Sá de Miranda. Os seus poemas foram publicados por seu filho, Miguel Leite Ferreira, em 1598, sob o título de «Poemas Lusitanos». Escreveu as comédias Bristo e Cioso, publicadas em 1622, e a tragédia «Castro», em 1587.
É considerado um dos maiores poetas do classicismo renascentista de língua portuguesa.
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