Os «Boys» sem CV, do «Socratismo»

ingressos escandalosos no estado e e. públicas

Há duas semanas, a revista «Sábado» levantou uma ponta do véu. Partindo desse facto, na semana passada, Henrique Raposo, na última edição do semanário «Expresso», atacava a fundo: “ […] podemos dizer que V. Exª [engenheiro José Sócrates] foi um péssimo primeiro-ministro, mas foi, de facto, um generoso líder do PS. O seu Governo deixou o país na miséria, mas instalou boys com um impecável rigor suíço. Tal como demonstrou a «Sábado», o PS encheu o Estado e as empresas públicas com boys sem curriculum vitae. Em suma, enquanto o país se afundava, o PS banqueteou-se no Estado”.

É uma denúncia agreste e que muitos poderão considerar – com razão – não ser apenas uma prerrogativa dos seis anos de «socratismo».

Mas o que torna tudo mais grave é que a situação de nepotismo e de clientelismo se continue a verificar mesmo após a declarada e lastimável situação económica e financeira do país.

Ainda há poucas horas, era o próprio Presidente da República que se insurgia contra este estado de coisas, que continua a permitir que a máquina do Estado, as empresas público-privadas e as empresas municipais continuem a ser consumidas por tanta «generosidade».

Há dias, era um leitor do ‘Calçadão’ que nos remetia um comentário duro e cáustico, onde contava a história de um jovem político algarvio que, depois de ter perdido “a eleição e a oportunidade de se abotoar a um lugar com pelouro e um ordenado decente” (como vereador), por uma sucessão de felizes acasos, “viu-se de repente deputado da Nação”.

Contava o nosso comentador que “o nosso deputado, vendo-se com um vencimento acima de 3.500 euros (fora o resto: viagens, subsídios, refeições) mandou logo às urtigas o lugar de vereador sem soldo [… mas] nas eleições seguintes, ele lá estava subindo uns degraus nas listas [de deputados] graças já à sua experiência parlamentar”.

E continuava o comentador:

“Mas nessa altura a estrela empalideceu. O partido do deputado conseguiu o seu pior resultado de sempre no reino dos Algarves e nem com um elevador pôde chegar aos degraus do Parlamento. Caiu o Carmo e a Trindade: na Câmara, o outro partido estava de pedra e cal e por isso as esperanças de um vencimento certo ao fim do mês pareciam uma miragem.

Parecia! Mas a estrelinha estava lá. A estrelinha e o cartão de militante. Os amigos são para as ocasiões não é?

Onde se mete, onde se há-de meter??? O governo diz que temos de evitar novas admissões… estamos em crise… é uma chatice!...

É claro que o Hospital de Faro é uma E.P.E. mas, mesmo assim vamos lá ver… Ah, bom, temos aqui uma vagazita. Não é assim grande coisa mas sempre serão mais de 1.700 euros ao fim do mês. Depois se vê o que se pode fazer mais. Serve? Oh se serve!...

Metido o pé, é fácil adivinhar o resto. No lugar de administrador da casa estava outro boy de pergaminhos familiares. Mas este estava com olho noutro posto. Uma coisa qualquer na Justiça sempre é mais chique.

Pronto está feito: o outro “pina-se” lá para esse lugarzinho que lhe interessa mais e o nosso herói fica com uma mensalidade mais de acordo com o seu estatuto de ex-deputado: mais de 3.800 por mês o que não é nada mau…

No fim de Março a gente arranja isso. Sai o outro e és promovido a administrador. Bem bom, não? ”

Não foi difícil comprovar, em «fontes próximas» do Hospital de Faro, a veracidade do caso relatado, numa admissão e progressão na carreira sem regras nem concursos.

Ora pois, como é que o comum dos cidadãos poderá conformar-se com os sacrifícios que lhe pedem: o aumento do IRS e do IVA, cortes no RSI, no abono de família, pensões e salários da função pública congelados e os aumentos de custo de vida que tudo isso irá representar?
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