já fizeram uma visitinha

Amazing Counters
- desde o dia 14 de Junho de 2007

terça-feira, 25 de setembro de 2007

NUM DOMINGO, EM VILAMOURA

(texto integral)


- Tá tocando o telelé?!...
--Quem será a esta hora?
--Oh que chatice! Ora, ora…
--acordar quem está dormindo
--numa manhã de domingo,
--e não quer ser incomodada...
--Bem, vamos lá ver quem me chama

- Tou siiim?!... Diga… Quem é?
- Olá, já t’as acordada?
- Ah, és tu!... Mas ‘tás maluca?
--Oh filha duma rameira:
--Quem se lembra de ligar
--numa manhã domingueira,
--que apetece estar na cama,
--para aqui, a preguiçar?
--Com certeza que ‘tás zuca…

- Sabes lá que aconteceu!...
- ‘Tão? Foi alguém que morreu?
- Credo, que coisa, rapariga!...
- Qu’é que foi? Conta lá…
- Se soubesses quem eu vi…
- Desembucha, faz favor!
- Nem calculas, minha amiga…
- Deve ser assunto sério!
--Conta tudo, conta já!
- Quando vinha para aqui,
--Tu sabes quem encontrei
--E até me deu de vaia?
- Como é que eu hei-de saber?
--Pois tá claro que não…
--inda nem me levantei…
--É domingo, ‘tás esquecida?
--E não estou p’ra mistérios!
- Ai menina, está um pão!...
- Não ‘tás doida? Nem doente?
--E não me fales em pão
--porque eu estou de dieta!
--Deu-me agora p’r’engordar
--só de olhar p’rá comida…
--(‘Tou c’um pneu indecente!)
- Olha, não sejas pateta.
--Não é desse pão qu’eu falo
--estou a falar do irmão
--da Júlia, qu’ia p’rá praia…
- Hum?
- Há que tempos que o não via!
--Esse moço está um espanto!
--‘Tá bonito, tá diferente…
--Tá um mocetão d’estalo!
- Tal está a minha vida…
--e que tenho eu com isso?
- Oh menina, tens d’ir ver!
--Está lindo o rapagão:
--uns ombros… nem imaginas…
--e o rabo… um monumento
--dentro daquele calção!
- Escuta lá, acabas de m’acordar
--p’ra dizer que viste um gajo?!...
- Diz antes: um senhor gajo!
--Ai menina, ai menina:
--com aquele é que eu ia…
--nem hesitava um momento.

- Pois então vai ter com ele
--e vê se me deixas dormir!
--Sabe tão bem a caminha…
- Nem penses, vai-te vestir!
--E vamos já ferrar nele
--antes qu’alguém o agarre.

- ‘Tás maluca! Vai sozinha
--o qu’é que eu vou lá fazer?
- Tu vais comigo, ora essa!
--P’ra qu’é que serve uma amiga?
--Veste-te já, e depressa
--e vem, voando, aqui ter…
--Mas mexe-te, rapariga!
--que temos de ir já p’rá praia.
- Moça, não digas asneiras!
--Eu hoje nem tenho carro…
--levou-mo o namorado
--que precisou d’ir a Faro…
--(Aquele tipo é lixado…)
- Então, fazemos assim:
--esperas aí por mim
--que passo p’ra te apanhar
--daqui a vinte minutos…
--Trata já de t’arranjar!

- Mas escuta… escuta lá…
- Escuta tu, minha amiga:
--quando te peço um favor,
--és capaz de recusar?!
--Só te peço companhia…
- Pronto, pronto, já ouvi;
--não precisas de chorar
--nem de deitar baba e ranho…
--Eu vou-me já levantar
--e vou tomar o meu banho,
--p’ra ir ver o tal senhor!
- Eu sabia, eu sabia
--que não ias recusar
--um favor tão pequenino
--E depois vais ver: no fim,
--não te vais arrepender
--porque aquilo que vais ver
--é ‘ma peça de museu!...
--uma peça a condizer
--com o meu bikini mais lindo…

- Eu imagino, pois sim…
--no fim, é algum maricas…
--com carinha de menino…
- Vais ver com que cara ficas
quando vires aquela estampa…
- Enfim, já ‘tou curiosa
--Mas sempre te vou dizer:
--se a peça for valiosa,
--se não for alguma trampa,

--
vou-a disputar contigo…
- Pois então ‘tá combinado!
--Mas olha que vais perder…
--O gaijinho vai comigo!

- Isso veremos depois…
--Mas, pronto eu já ‘tou indo…
--Deixa-me lá despachar
--p’ra não te fazer esperar.

**********************
Um quarto de hora passou.
Chega o carro da amiga.
Em curta buzinadela,
alertou a rapariga.
Desce a moça em alvoroço;
No corpinho, cheio de alarde,
traz um bikini vermelho
daqueles que mal se enxergam
e, num saquinho de praia,
traz a roupa p’ra mais tarde:
uma blusa, uma saia,
pois ela nunca se enrasca.
Pintou os olhos ao espelho,
não tomou pequeno-almoço
(ou por causa da dieta
ou porque a curiosidade
não a deixava estar quieta).
Ali vão as duas lascas,
produzidas, bem pintadas,
muito sexies, quase nuas,
cheias de sonhos, de graça,
e de certezas muito suas.
Produtos de qualidade!
Produtos de Vilamoura,
a caminho de Quarteira,
numa expedição… de caça.

********************
Que se passou a seguir,
isso não vamos contar
porque… a vida privada
é direito a respeitar.
Fique certo desta coisa:
não vamos satisfazer
a sua curiosidade
O que lhe posso dizer
é que, quando elas voltaram,
para casa, em Vilamoura,
quase à hora de jantar,
é que a nossa rapariga
percebeu que se esquecera,
da chave da sua porta,
com a pressa de sair.
Uma aflição, sim senhora:
a coisa agora está torta:
como fazer p’ra entrar?
A janela está aberta…
Mas é no terceiro andar.
Lembrou-lhe então a amiga
Para chamar os bombeiros.
Chega o carro a apitar
Traz ‘ma escada, traz ‘ma corda
Mas os soldados da paz
nada podem fazer
p’ra “assaltar” a habitação
Não têm autoridade.
- Então como é que se faz?!
--Quem dá autorização?
- Chame a guarda, chame a guarda
--Tem que a chamar primeiro!...

Chega o carro, chega a farda:
- O qu’é que se passa aqui?
--Espere lá um momento,
--vamos lá fazer um auto…
--O seu nome, a profissão,
--a data de nascimento…
Que raio de curiosidade!
E a pobre da rapariga
com vontade de xixi…
com vontade de chorar,
com vontade de fugir,
nunca mais podia entrar!
Já está farta, já está farta!...
Por fim, o homem da guarda
lá deu licença aos bombeiros:
- Já pode ir… faça favor…
Leva-se a escada primeiro
p’ró terraço superior.
Cá em baixo, estamos todos.
Todos, de nariz no ar:
é a moça e a amiga,
tristes, e com azedume;
mais os homens da polícia,
com a sua empáfia a rodos;
os bombeiros dispensáveis
e os mirones do costume,
com um riso de malícia
e palavras execráveis.
Desceu então, de encarnado,
(a cor aqui não importa)
um bombeiro, com cuidado,
p’ra cumprir a bagatela
de entrar pela janela
p’ra poder abrir a porta.

Finalmente, a rapariga
já pode entrar no seu lar
já pode ir fazer xixi
já pode dizer à amiga
que, se lhe passar a jeito
um “pão” de rabo bem feito,
escusa de telefonar -
pode-o guardar para si!

*******************
Eu não posso garantir
que a história que contei
tenha sido tal e qual…
Não estava lá p’ra ouvir
As conversas das amigas.
E são coisas que eu cá penso,
são ideias, afinal,
da cabeça do Lourenço,
os actos das raparigas…

O que posso afiançar,
do que posso dar notícia,
foi do que eu observei:
da saga que elas passaram
com bombeiros e com polícia,
(tudo só para chatear)
‘té qu’ao fim, em casa entraram.

LOURENÇO ANES
07-09.24

Sem comentários: