Quem ontem escutou o frente-a-frente entre Cavaco Silva e Fernando Nobre deve ter ficado perfeitamente elucidado com aquele frente a frente feito numa linguagem de alhos e bugalhos: ninguém sabe, neste país, o que é ser e o que se espera de um Presidente da República.
Fernando Nobre, considerando os "cinco anos perdidos em grande parte", com o país a assistir ao aumento do desemprego e o défice e o endividamento do país a crescer, parece estar a pensar que o Presidente é o chefe do Governo. E também deve pensar que sabe o que é um orçamento…
Cavaco - que já esqueceu que foi no seu tempo de primeiro-ministro que se perderam as grandes oportunidades de modernizar e desenvolver a agricultura (e as pescas, a indústria, as tecnologias) ao deixar desbaratar, sem sentido, a torrente de dinheiro que jorrava «de Bruxelas» - teve a ousadia de dizer que, como é preciso comprar menos lá fora e aumentar as exportações, é preciso que “a agricultura produza mais”! (Ai Thierry Russel, como te deves ter rido à gargalhada, lá por onde andas a gastar a fortuna que o primeiro ministro Cavaco te deu!...).
Mas Cavaco também usou o seu tom professoral para dizer que não é pela via da alteração da legislação laboral que se irão resolver os problemas do emprego, acrescentando que "não pode haver despedimentos sem justa causa". Imagem: Foto de Estela Silva/Lusa
O ainda Presidente deve andar distraído. Em tempos, disse que gastava cinco minutos por dia a ler os jornais; mas, decerto, também não ouve rádio nem liga o televisor, já que não escutou o louvor de Jean-Claude Juncker, o presidente do Eurogrupo, na 5ª feira,porque “Portugal e Espanha tomaram as decisões necessárias… por agora"; nem as palavras da chanceler alemã Angela Merkel, muito “impressionada com as políticas económicas que Portugal”, mas exortando ao “aprofundamento das reformas para aumentar a competitividade”.
Terá percebido o professor Cavaco Silva os «recados» e o “por agora”? Ou pensará que o Presidente português tem mais poder sobre o país que o Fundo Monetário Internacional (FMI)?
Dominique Strauss-Khan, o director-geral do FMI, deve ter abanado a cabeça reprovadoramente quando soube o que pensa Cavaco sobre os despedimentos.
Sócrates, que, ontem mesmo recebeu os louvores da sua amiga Merckl, terá pensado lá com os seus botões: “Este Silva, também?! Bem me bastava o outro, o Carvalho…”.
Em Janeiro vamos ter eleições. Há candidatos; um deles será eleito. Mas iremos ter um Presidente da República?
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8 comentários:
Deduzo do post que o José Carlos acha que despedir é bom. Parabéns. Não o tomava por tão crente em Sócrates, no FMi e na senhora Merkel.
João Martins
Meu caro João Martins:
Cada um toma as deduções que quer. Por essa ordem de ideias eu poderia deduzir (lagarto, lagarto, lagarto!) que o João Martins "acha que o Cavaco será um bom Presidente...
Se vc. acha que eu sou um crente em Sócrates... é a sua opinião e quem sou eu para forçar os outros a terem a sua própria opinião?
Mas, se reler o texto, irá entender que o que fica subjacente é que nem Cavaco, nem Sócrates nem ninguém tem já o controlo da vida do país.
Somos (ou seremos) aquilo que o FMI, Merckl e o Bundesbank quiserem e serão eles que vão mandar às urtigas as nossas leis, a nossa Constituição. Diz-se por cá que, quem não tem dinheiro não tem vícios nem ambições; e eles sabem que dinheiro não temos, Portanto... Nem que o Sócrates ande aos beijinhos à Merckl, nem que se ajoelhe aos pés do Strauss-Khan. Quem manda, são eles.
Estamos de acordo?
onde se lê "para forçar os outros a terem a sua própria opinião", deverá ler-se " .... a NÃO terem a sua própria opinião"
Mas com o Manuel Alegre em Presidente, o baile seria outro, não seria ás boas e apesar da $$crise$$, que eles(Passos Coelho, Sarkosi, Merckl, etc) "mandavam" na malta.
Olá José Carlos,
Lagarto, lagarto, lagarto...
Abraços
João Martins
Cavaco Silva, outra vez candidato a Presidente da República, afirmou recentemente que os portugueses têm de se sentir "envergonhados" por existirem em Portugal pessoas com fome.
Imaginem o passarão! Que fez ele para acabar com essa situação quando podia fazer?????
Rendimento mínimo? Alguma vez falou em fazer esforços para inclusão social?
Distribuiu dinheiro por amigos, PPDs, banqueiros e grandes lavradores. Matou o desenvolvimento!
Venha o governo Portas-Coelho!!! Eles querem FMI? Pois se calhar vão tê-lo e devem ficar muito bem na fotografia!
Porque será que cada vez temos piores governantes?
Estou farto de carpideiras fingidas,uns fazem as leis que colocam as pessoas a passar fome,outros aprovam-nas,depois uns e outros aparecem em público a manifestar compaixão pelos pobrezinhos,como se não tivessem culpa de nada.O senhor Presidente até diz que o país devia ter vergonha de haver tantos famintos no país.Pois eu digo-lhe que está enganado snr.Presidente,os políticos é que deviam ter vergonha pela situação em que colocaram o país e o país devia ter vergonha dos políticos que tem.
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