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sábado, 13 de setembro de 2008

Antologia

meu coração tardou
Meu coração tardou. Meu coração
Talvez se houvesse amor nunca tardasse;
Mas, visto que, se o houve, houve em vão,
Tanto faz que o amor houvesse ou não.
Tardou. Antes, de inútil, acabasse.

Meu coração postiço e contrafeito
Finge-se meu. Se o amor o houvesse tido,
Talvez, num rasgo natural de eleito,
Seu próprio ser do nada houvesse feito,
E a sua própria essência conseguido.

Mas não. Nunca nem eu nem coração
Fomos mais que um vestígio de passagem
Entre um anseio vão e um sonho vão.
Parceiros em prestidigitação,
Caímos ambos pelo alçapão.
Foi esta a nossa vida e a nossa viagem.

FERNANDO PESSOA (1888 - 1935)

Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa, em 13 de Junho de 1888 e morreu na mesma cidade, em 30 de Novembro de 1935.
Por tanto que se tem escrito e por tudo o que é conhecido sobre Pessoa, vou limitar-me a transcrever aqui o que sobre ele diz a Wikipédia.
Com a publicação deste poema da nossa modernidade, findo o “ciclo” dos primeiros nomes do Grupo Modernista.
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“É considerado um dos maiores poetas de língua portuguesa, e o seu valor é comparado ao de Camões. O crítico literário Harold Bloom considerou-o, ao lado de Pablo Neruda, o mais representativo poeta do século XX. Por ter vivido a maior parte de sua juventude na África do Sul, a língua inglesa também possui destaque em sua vida, com Pessoa traduzindo, escrevendo, trabalhando e estudando no idioma. Teve uma vida discreta, e trabalhou no jornalismo, na publicidade, no comércio e, principalmente, na literatura, onde se desdobrou em várias outras personalidades conhecidas como heterónimos.
A figura enigmática em que se tornou movimenta grande parte dos estudos sobre sua vida e obra, além do facto de ser o maior autor da heteronímia.
Morreu de problemas hepáticos aos 47 anos, na mesma cidade onde nasceu, tendo sua última frase sido escrita na língua inglesa, com toda a simplicidade que a liberdade poética sempre lhe concedeu: "I know not what tomorrow will bring... " ("Eu não sei o que o amanhã trará")”.
----------- Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
----------- Não há nada mais simples.
----------- Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
----------- Entre uma e outra todos os dias são meus.

----------- Fernando Pessoa/Alberto Caeiro

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