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domingo, 7 de setembro de 2008

Antologia

do pastor peregrino
Se coubesse em meus versos e em meu canto
A tristeza sem fim que o peito encerra,
Moveria aos penedos desta terra
A nova piedade e o novo espanto.

Se puderam meus olhos chorar tanto,
Quanto se deve à causa que os desterra,
Cobririam já em lágrimas a terra
Escurecendo o seu tão verde manto.

Mas o que tem amor dentro encerrado
Na alma, que a língua e os olhos se defende
Não pode ser com lágrimas contado:

Ah que sabe sentir quanto compreende,
Que o mal que está oculto em meu cuidado,
Não se vê, não se mostra, não se entende.

RODRIGUES LOBO (1580 – 1622)

Francisco Rodrigues Lobo (Leiria, 1580 — Lisboa, 1622)
Rodrigues Lobo nasceu na cidade de Leiria numa família de cristãos-novos, em 1580. Pouco se sabe da sua vida e, no entanto, este Doutor em Direito pela Universidade de Coimbra, poeta e novelista, escritor de textos "políticos, morais e métricos", foi um dos primeiros escritores do seu tempo, pela pureza da sua linguagem.
Dava-se bem em ambientes requintados e convivia com a nobreza, vivendo em casa de D. Duarte de Bragança. Toda a sua vida decorreu durante a ocupação espanhola filipina em Portugal, o que pode explicar ter escrito mais em língua castelhana que em português.
Viria a morrer cedo, numa viagem, afogado no Tejo, em 1622.
Autor, entre outras, das obras: «Corte na Aldeia» (1619), que é considerada como o primeiro sinal literário do Barroco em Portugal e descreve as relações sociais do seu tempo; «Condestabre» (1609); «O Pastor Peregrino» (1608) e «Primavera» (1601), título geral das três novelas pastoris: (Primavera, Pastor Peregrino e Desenganado).
A sua escrita reflecte claramente uma influência da lírica de Camões nomeadamente nos temas do bucolismo e do desencanto, de que o soneto hoje escolhido é um exemplo notável. Insere-se no livro “O Pastor Peregrino” e descreve o momento em que o Peregrino, na sua viagem ouviu “que entre huns pinheyros cantava huma só voz com muyto sentimento este soneto”.
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1 comentário:

Anónimo disse...

Realmente, isso parece mesmo de Camões!
Obrigada pela revelação.