Foi uma lição para os “radicais” e para a chamada “máquina do partido”, mas também para todos aqueles que se têm servido dele para colher benefícios em proveito próprio e para promoção pessoal.
Nas suas críticas ao actual Governo, Manuela começou por dizer que "o Governo gasta imensa energia e recursos a tratar da comunicação e imagem", resumindo: "o objectivo é enganar-nos".
Disse depois que "são cada vez mais abafadas as vozes dos que sabem que isto não vai bem, mas que não podem falar muito alto" e especificou que "na Administração Pública, na vida económica, no associativismo, nos mais variados sectores podemos recolher testemunhos e exemplos de um clima antidemocrático, pouco saudável".
Falando sobre a reforma da Administração Pública, Ferreira Leite disse que esta "serviu para adaptar a máquina aos interesses do PS”. Foi mais longe: "Sem uma nova cultura de responsabilidade, mérito e isenção, o Estado é vulnerável à corrupção, ao tráfico de influências e ao enriquecimento ilícito".
Sobre a área da segurança, a líder disse que "o Governo falhou perigosamente no âmbito da segurança interna, onde é patente a falta de uma estratégia sistemática e coerente capaz de assegurar com a desejável eficácia a realização dos fins mais essenciais do Estado: a segurança, a justiça e a tranquilidade dos cidadãos", criticando em seguida Rui Pereira por não ter dito "como iria reforçar a capacidade de investigação, de informação e de penetração de polícias".
"Mais uma vez se viu que o Governo não sabe actuar fora do espaço do espectáculo e do mediatismo", disse; mas, voltando a colher murmúrios de surpresa já quer isso vinha um pouco ao arrepio do que dissera do ministro da Administração Interna, acabou por elogiar as forças de segurança, considerando que estas "têm correspondido com um sentido de missão e responsabilidade que é de salientar, perante o desnorte do Governo".
Sobre o que entende ser necessário para o País, afirmou que "é imperioso reduzir os custos operacionais, aliviar a carga burocrática, reduzir a fiscalidade ligada à criação de emprego e apoiar a exportação".
Manuela Ferreira Leite terminou a sua intervenção, há momentos, afirmando que "do Governo do PS não resultou qualquer benefício para o país" e prometeu que do seu "resultará o progresso".
Foi um discurso “de Estado”, sem, no entanto, evitar recados para dentro do partido e, deliberadamente, deixando em silêncio respostas que alguns, como por exemplo, os “defensores acérrimos” da regionalização, esperariam.
A estes, deixou um recado, dizendo que vai concentrar-se "ape-nas nas questões que verdadeiramente preocupam os portugueses" e "deixar que outros se 'entretenham' a discutir temas que não afectam minimamente o dia-a-dia das pessoas".
Castelo de Vide, 7/Setembro, 14.00 horas
4 comentários:
O discurso de Manuela Ferreira Leite não recolheu aplauso unânime. A alguns terá mesmo causado uma certa “indigestão” mesmo antes da hora de almoço.
Por isso, durante o discurso, se perceberam olhares cruzados de (des)entendimento e, no final, se ouviram murmúrios reprovadores daqueles que esperavam um discurso mais técnico, ou dos que aguardavam palavras muito mais duras para o Governo, ou de exaltação social-democrata.
Ao contrário, da boca de Manuela Ferreira Leite saiu a afirmação de que é preciso "libertar o país e as instituições do sectarismo partidário". Ora sabe-se – e a Manuela, em épocas anteriores, tem-no afirmado publicamente – que o sectarismo partidário não é monopólio dos socialistas… Por isso, aos chamados “homens do aparelho” não lhes deu para aplaudir freneticamente. Entende-se.
Além disso, Manuela preferiu criticar o Governo de Sócrates em generalidades como nas acusações de “tratar da comunicação e imagem” e sobre a “falta de uma estratégia sistemática” para a segurança.
Foi mais objectiva no ataque ao ministro da Administração Interna do que ao primeiro-ministro e isso não deixou contentes os radicais. Essa seria a razão por que, no final, escutei quem acusasse a líder de deixar transparecer que defende os princípios governativos de Sócrates.
Finalmente, Manuela foi bem firme ao mandar “que outros se entretenham a discutir temas que não afectam minimamente o dia-a-dia das pessoas". Entende-se: a regionalização não afecta esse dia-a-dia.
Os responsáveis pelo PSD/Algarve entenderam o recado, penso eu... Se é que ainda tinham ilusões: regionalização não faz parte da agenda prioritária do PSD.
Lourenço Anes
Quer dizer que o Botinhas está a ver a vida a andar para trás, não?
Afinal, fico na mesma: Temos mulher, ou nao temos mulher?
Este preciso precisa de rédea!
O amigo Lourenço só vê "vantagens" na Manuela Ferreira Leite. Vai ver quando ela mostrar que só tem na cabecinha aquilo que mostrou quando foi ministra da educação: vale tanto quanto um Santana Lopes!
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