Uma maçada! Estes debates na Assembleia da República já não atraem ou prendem atenções nem convencem ninguém.
Olhando para aquele hemiciclo, agora muito «enfeitado» com os computadores – quase todos a mostrarem exactamente o que está à vista de todos, e que é o que a televisão da AR quer mostrar para o exterior – pressente-se o desinteresse, e fica-se com o sentimento do déjà-vu: rostos enfastiados ou profundamente distraídos, intervenções a repetirem exaustivamente as mesmas ideias, os mesmos chavões.
Foi o que nos aconteceu hoje, sexta-feira, ao partilhar o enfado que se reflectia nos rostos dos próprios deputados, ouvindo as mesmas palavras mil vezes repetidas, ainda por cima, sabendo-se como tudo iria terminar, perguntamo-nos a nós mesmos: que estamos aqui a fazer? A perder tempo…
O resultado já se sabia: o Orçamento do Estado para 2010 e as Grandes Opções do Plano foram aprovados, em votação final global, com os votos favoráveis do PS, a abstenção do PSD e do CDS-PP, e os votos contra de BE, PCP e Verdes.
Na sala, além de meia-dúzia de curiosos empoleirados nas galerias, e dos jornalistas impacientes pelo fim dos trabalhos, estiveram presentes 226 dos 230 deputados: 96 eram do PS, 79 do PSD, 20 do CDS-PP, 16 do BE, 13 do PCP e 2 dos Verdes. No meio daquela gente toda, só os funcionários do Parlamento parecem reais, com vida própria.
E pronto, chegou ao fim a tragédia do Orçamento 2010. Já percebi: este Orçamento irá custar a cada português 800 euros - 800 euros ao senhor Belmiro que goza com esta assembleia e este governo «de amadores»; 800 euros a mim que há semanas não tenho um cliente de jeito no estabelecimento; 800 euros ao meu filho que, depois de concluída a licenciatura, irá fazer um mestrado e depois um doutoramento, pela única razão de que não encontra quem lhe dê trabalho, e que nunca ganhou um tostão na vida; 800 euros ao arrumador do gorro que ainda desengonça o braço de tanto o abanar em frente do mercado de Quarteira… 800 euros a todos.
E como nem o meu filho nem o arrumador do Largo dos Cortes-Reais têm um chavo para pagar, lá vai custar mais uns cobres ao senhor Belmiro e mais uns quantos «ai minha Nossa Senhora» aos meus próprios desabafos e aos desabafos de todos os que têm de labutar para equilibrar o orçamento doméstico.
Afinal de que serviu assistir àquele pesadelo de discursos demagógi-cos e sem surpresas?
Ah, esperem sem surpresas, não: meia dúzia de deputados, entre os quais Mendes Bota e Antonieta Guerreiro, anunciaram a intenção de apresentar «declaração de voto». Estou curioso. Ate porque Bota não votou! Vocês não? Só se fosse uma «declaração de não voto»...
PS:
Já em Mafra, fomos informados que Bota fez declarações à Lusa e justificou o seu «não voto» porque o Algarve vive uma "situação inédita que não tem paralelo em nenhuma outra região do país", com uma "seca de investimento público" desde há cinco anos e "que se vai prolongar em 2010".
3 comentários:
Está enganado Lourenço! O Belmiro NUNCA pagará nem pelo seu filho nem pelo arrumador!
Quem pagará por eles.... somos nós, os pequeninos.
O Bota quer é lustro! Um toleirão tão disfarçado que nem tem a coragem de mostrar a careca!
Show-off. Leandro
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