Torço o nariz a tudo o que me cheira a tentativas de supremacia de um sexo sobre o outro.
O meu comentário de hoje é, por si só, uma afirmação e uma tenta-tiva de um regresso mais regular à colaboração do ‘Calçadão de Quarteira’ pois, infelizmente e por razões que se prendem a problemas pessoais, o imprevisto me tem afastado do quotidiano de Quarteira e, consequentemente, da normalidade de vida.
Senti hoje esta necessidade súbita de vir expressar aqui os meus sentimentos, com a benevolência que espero dos meus companhei-ros de lide, particularmente, da do meu querido amigo Lourenço.
Tem todo este arrazoado a finalidade de funcionar como intróito às palavras de surpresa, ou mesmo de revolta que me têm andado atravessadas na garganta, particularmente desde que a Assembleia da República “legislou” sobre a “paridade” homem-mulher que, no seu entender se pode expressar na expressão “uma em três”, ou seja, para cada dois homens, deve ser indicado (repare no termo, que é de minha responsabilidade) o nome de uma mulher.
Afinal, no entender da maioria masculina da Assembleia da República, a “igualdade” expressa na Constituição da República Portuguesa não significa um para um, mas sim, dois para um!
É verdade que o género feminino e todas as feministas da “nossa praça” também se não preocuparam muito com tal incongruência. Elas próprias se demitem dessa igualdade, criando estruturas próprias do género “menino não entra”.
Estou politicamente à vontade, porque as minhas simpatias partidárias se situam numa agremiação política que (felizmente e apesar de todos os erros que o partido persiste em cometer) ainda não se lembrou de criar uma estrutura autónoma para fêmeas, do género «Mulheres Socialistas» ou «Mulheres Social-Democratas».
Não perceberão estas mulheres que são elas próprias a auto excluí-rem-se de uma sociedade paritária em deveres e direitos? Que diriam essas “feministas” se os seus partidos decidissem criar os grupos dos «Homens Socialistas» ou dos «Homens-Sociais-Democratas»?
Aqui d’el Rei!
Assim, não surpreende que Manuela F. Leite seja considerada (pelos homens) uma líder a prazo, nem que Ana Gomes, eleita pelos seus pares como a mais activa deputada do Parlamento Europeu, esteja quase com o destino traçado: a exclusão das listas do seu partido.
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Entretanto, vão-se escutando por cá rumores inquietantes: que em Quarteira surgiu uma mulher decidida a avançar como candidata a presidente da Junta. Dizem-me, porque apenas a conheço de vista e, portanto, me não posso pronunciar, que é uma mulher cheia de boa vontade, com aceitação pública e bem preparada para a função.
Pois bem, num momento em que, em toda a Europa, se apela a que as políticas impulsionem os jovens e as mulheres para a “vida pública”, acabo de saber que os homens do seu próprio partido, gente que já teve todas as oportunidades de mostrar o que vale e não vale, procuram afastá-la dos seus desígnios… para eles próprios se empertigarem para a função.
No outro partido “de poder”, os convites estão feitos, para as candidaturas. A homens, apenas, a ser verdade o que se diz. A homens que também já tiveram todas as oportunidades para mostrar o que valem e não valem. As mulheres aparecerão lá para o fim, a enfeitar o bouquet, para cumprir a lei…
E não devemos esquecer o que se passou no movimento de “Quartei-ra a Concelho”: Enquanto foram só homens a manobrar à sua maneira, não faltou quem se pusesse em bicos de pés, a posar para fotografias e a gritar o seu “quarteirismo”. Mas assim que uma mulher pegou no estandarte, o movimento extinguiu-se por si e a voluntariosa mulher ficou entregue a si mesma, impotente e talvez desmoralizada.
É assim. Para «eles» (ou a maior parte deles), a mulher é vácua, é estrídula e não tem direito a ter ideias próprias.
Assim vai a política de Quarteira, assim vai o que os “donos” da política à portuguesa entendem que é o papel da mulher.
É esta a “igualdade” que a Constituição preconiza e… que eles dizem defender.
Enquanto o chauvinismo (seja de que lado vier) impuser as suas regras, Portugal não deixará de ser um país pequenino, habitado, como disse Guerra Junqueiro em 1886, por "um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas..."
E somos nós mesmos, homens e mulheres que aqui vivemos, que nos entregamos à carga, à nora, às pauladas, porque nos entretemos a zurzir-nos uns aos outros, deixando que uma cambada de incapazes tomem as rédeas do nosso destino.
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22 comentários:
Ora aí está quem aparece a questionar aquilo que era evidente ser questionado. Então criar um movimento interno de mulheres dentro do partido não será o reconhecimento que os partidos mais não fazem do que reproduzir a desigualdade de género?
Não deveriam ser as organizações partidárias a partir de dentro a fomentar a igualdade de oportunidades de género e dar o exemplo a toda a sociedade? É claro que isso não se faz com "cotas" mas valorizando o bom trabalho das mulheres que fazem política. E pôr os homens a lavar a loiça e fazer a lida da casa dava um grande jeito.
É sempre bom ver de vez em quanto uns rasgos de lucidez na nossa praça.
Cumprimentos
João Martins
Ana Maria:
Essa é uma análise perfeita. Gostava de ser capaz de expressar dessa forma as minhas ideias mas tenho limitações que não me permitem.
Nunca tinha pensado nisso das Mulheres Socialistas e das Mulheres Social Democratas que são elas mesmas que estão a dividir em vez de unir. Realmente, interpretar a igualdade de direitos e deveres da forma como estão a ser interpretadas não passa de uma anedota.
E, como você diz, somos nós mesmas a fazer essa distinção. Se ainda se poderia entender as Juventudes Social Democratas, Comunistas e Socialistas, porque estes têm interesses juvenis em que os adultos não encaixam, já os problemas das mulheres só podem diferir dos homens nos aspectos que dizem respeito à maternidade.
Quanto ao que diz das mulheres na política: Manuel Ferreira Leite, Ana Gomes, Hortênse Morgado, Gilberta Alambre ou da ausência de convites a mulheres do PSD de Quarteira, essa é a triste realidade que os homens entendem como justa, e... nós aceitamos com normalidade.
Pode Manuela Ferreira Leite ser a melhor Ministra das Finanças que tivémos, e foi, pode Ana Gonmes ser a deputada mais activa da Europa, e é, pode Hortênse Morgado ser uma excelente proposta para a Junta de Quarteira, e é, pode Gilberta Alambre ser uma mulher cheia de genica, e é... tudo isso pouco vale aos olhos masculinos. Para eles, ou para a maior parte deles, o lugar delas seria em casa, a tratar dos filhos, a fazer o jantar e a arrumar as meias que eles deixam espalhadas por toda a casa.
Ana: abençoado texto o que você escreveu. Que pena que poucos homens tenham acesso a ele. Que pena que nem todos os que eventualmente o leiam sejam inteligentes ou sejam aqueles que podem intervir de forma correcta na nossa Sociedade.
Obrigada, Ana Maria.
Francelina
Manuela Ferreira Leite a melhor Ministra das Finanças? Essa só por piada!
Uma mulher à frente do Governo? Vejam essa Lurdes Pintassilgo que falam hoje. Só para um Governo de 100 dias. E vejam que depois já não queria largar o osso e já queria ser Presidenta da República,
O Movimento Quarteira a Concelho não foi apenas um sonho de uma mulher cheia de genica, ainda que, na altura, pouco conhecida na terra. Foi um grito de revolta pela forma como Loulé trata Quarteira.
A Gilberta falhou, paciência, falhou o sonho dela e os nossos mas resta-nos a esperança que a regionalização nos dê alguma autonomia financeira relativamente a um Loulé que só nos explora.
Por outro lado, pode ser que a Hortense seja uma boa alternativa ao José Mendes. Ainda bem que os Socialistas desistiram da obção Ezequiel porque já viram que com aquele não iam a parte nenhuma.
Agora vamos ver se é que o Catarino se aguenta porque como não é cá da terra, vai ser dificil impôr-se aos Quarteirenses.
A Ana Gomes foi considerada a deputada "mais activista", não foi a melhor deputada.
É uma deputada que serve muito bem para peixeiradas, ao contrário da Ferreira Leite que só fala quando é preciso mas o que faz diz com acerto.
Desculoa, mas a Manuela fala pouco... e mal
E se falássemos um pouquinho das bacoradas e asneiradas dos homens da política? Não há pois claro...eles nuncam dão mergulhos no Tejo!
Sugiro a criação do movimento das "mulheres jovens negras de origem popular do PSD". 50% de cotas!
Bom post este.
João Martins
Olha, boa!
A minha proposta: Secção do partido A ou B ou C dos "homens bisexuais, amarelos, canhotos e de olhos verdes" com cotas de 50% também!
Por acaso era giro que o PSD apresentasse também uma mulher como candidata para a Junta. Talvez aquela Arcelina das marchas não fosse má escolha, LOL LOL LOL
Isso é bem verdade: somos nós mesmos que nos entregamos às pauladas deixando que uma cambada de incapazes tomem as rédeas do nosso destino.
Oh amigo eu: para peixeiradas chegam as que diz ali a cima o m.c, a ana gomes
Excelente post. Muito bem, Ana Maria. As verdades devem ser ditas.
Não acho que o assunto tratado nesta notícia seja motivo de chacota. É uma reflecção séria e não se percebem referências a mulheres jovens negras nem homens bisexuais amarelos.
Ou as pessoas não gostam de que se fale de coisas sérias?
Também acho que a Drª. Hortense seria uma boa candidata para Quarteira, mesmo que eu seja muito amiga do Ezequiel.
Comparar o que se passa hoje com Maria de Lourdes Pintassilgo é uma brincadeira de mau-gosto.
Foi uma grande primeira-ministra.
O primeiro anónimo que assina João Martins, achará que pôr os homens a lavar a loiça e fazer a lida da casa está errado?
Enquanto foram só as mulheres a fazer esses serviços, estava certo?
Machismo puro.
bjs
Rita
Amiga Rita. Vossa Excelência não percebeu nada do que eu disse. Aquilo que eu disse é exactamente aquilo que a senhora está agora a dizer. E agora está a pôr nas minhas palavras o contrário do que eu disse. Leia lá outra vez por favor.
Anónimo João Martins
Que grande post, Ana Maria.
Eu percebi a sua ideia, sr, Martins. O que não gostei foi daquela frase. Porque as mulheres sempre lavaram a loiça e fizeram a lidaa da casa, porque dava um grande jeito.
Pela minha parte, estamos em Paz, sr. Martins.
Bjs.
Rita
Professora, este post não tem nada de poético, pois não?
Mas dá nas orelhas a muito boa gente.
Promovido pelo PSD local, “A Mulher no Poder Local” é o tema de um debate que vai decorrer em Tavira amanhã.
Elsa Cordeiro (vice-presidente do município de Tavira), Isabel Soares (presidente do município de Silves) e Aurízia Anica (docente na Escola Superior de Educação da Universidade do Algarve) dão o mote na iniciativa da “Rede Social de Tavira”.
Alguma coisa a acrescentar?
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