- Tenho mesmo vontade de carnavais!... – respondeu com amargura.
Manuela mora ali perto da avenida e, todos os dias, desde há mais de doze anos, sai de manhãzinha para Almancil, onde tem trabalhado numa loja da Alisuper, num empreendimento de luxo.
Contou-me que foi a Lisboa, também; com o sindicato e os demais colegas, protestar contra a insensibilidade da Caixa Geral de Depósitos, que se recusa a emprestar uma grossa maquia.
- Só um milhão e duzentos mil euros! - diz a desesperada criatura, sem medir o alcance daquele «só».
Manuela, repete uma frase do sindicato convicta que só assim será possível “salvar os postos de trabalho e garantir o retorno do investimento e crédito aos actuais e futuros credores”.
Manuela não sabe de finanças nem de gestão. Não me sabe responder como é que 1,2 milhões podem colmatar uma necessidade urgente de 5,5 milhões para reconverter e salvar as empresas.
Sabe apenas que está suspensa e que tem ordenados em atraso; o que não sabe é, se só com o ordenado do marido, poderão continuar a pagar o apartamento que compraram com um crédito a 30 anos. Sabe que está desesperada e que lhe não servem as palavras amigas nem as expressões de consolo com que a tento conformar.
Sabe também que o patrão, que há dois anos a convenceu a abdicar do subsídio de Natal e que, a troco de uma pequena maquia, lhe garantiu sociedade na empresa e emprego eterno.
Sabe que esse patrão, que é licenciado em gestão, que é o proprietário do Grupo Alicoop e que é presidente dos conselhos de administração da Alisuper, da Macral, da Geneco, da Fábrica do Inglês, que é director da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal e que, sendo dono do jornal «barlavento» e das empresas referidas, tem andado de braço dado com os trabalhadores, «arma-do» em sindicalista, a exigir que a Caixa salve as empresas, que lhes salve os empregos, que o salve da insolvência.
Manuela sabe – porque é assim que lhe dizem – que quem tem a culpa da sua desgraçada situação de momento é a Caixa Geral. Ninguém lhe explica por que razão ninguém diz quais são as responsbilidades do senhor José António Silva, da sua gestão desastrosa , com sumptuosas festas na fábrica, nem os «porquês» das suas actuais tendências sindicalistas.
Ninguém explica a Manuela porque é que os partidos – todos, da esquerda à direita – manifestam o seu apoio aos trabalhadores e ao grupo de empresas, exigem compromissos ao Estado, culpam a Caixa e esquecem os desvarios do principal culpado: o patrão.
Manuela segue, com o seu filho pela mão, sem “vontade de carnavais”, sem horizontes.
1 comentário:
Infelizmente,temos o país cheio de Manuelas e Manuéis.
Por isso temos todos os corruptos em postos de chefia,começando pelo governo.
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