Foi assim, de trambolhão em trambolhão, arrastados por situações semelhantes, que Portugal chegou a este ponto.
Feito este intróito, que fica também como advertência aos que me lançaram o desafio, vamos então ao que importa.
Montalvão Machado, Maria de Lourdes Pintasilgo, Salgado Zenha, Adão e Silva, Jacinto Nunes, Medina Carreira, Henrique de Barros, Vasco da Gama Fernandes, Leonardo Ribeiro de Almeida, Almeida Santos, Teófilo de Carvalho são nomes que me vêm à mente quando falo em políticos sérios, competentes, íntegros.
Hoje não é nada disso. Os «putos» decidem: “vou ser político” e desenham o seu futuro à volta dessa ambição que nada justifica. O primeiro passo é colarem numa «jota», como pau para toda a obra – de colar cartazes ou pintar paredes a distribuir na escola auto-colantes a dizer «vota na C». Depois é deixarem-se levar, fazendo jeitos a uns, prestando vassalagem a outros, servindo de capachos a terceiros, até que arranjam um lugarzinho no IPJ ou como assessor de um qualquer político na prateleira de uma Direcção Regional. Se, entretanto forem capazes de puxar o tapete a esse «da prateleira», tanto melhor pois mais hipóteses lhes ficam de «assilhar» o rabo na cadeira que o outro usava. Senão, é só esperar que o outro tenha uma escorregadela para «lhe cair em cima».
A seguir, as oportunidades vão surgindo, numa espiral ascendente: autarca, candidato a deputado e, se apostar no cavalo certo, até pode ser que consiga uma lugarzinho no Governo da Nação. Já está!
Se for preciso fazer um curriculum vitae para apresentar publicamen-te, é só pedir a um dos professores instalados em qualquer instituto universitário que o «requisite» como assistente para que possa designar-se «docente», ou, não havendo essa hipótese, se conseguiu o bacharelato do curso de psicologia, intitula-se «psicólogo», se o seu pai tiver uma merceariazinha de esquina, é só escrever «empre-sário» no local onde diz ‘profissão’ ou, falhando tudo isso, é declarar-se como «consultor».
Fácil: descrevendo e enfatizando tudo o que fez na política desde os seus verdes anos em que distribuiu os auto-colantes da «lista C» e ajuntando essa notável profissão, o curriculum está pronto para ser ministro. Ou mesmo a primeiro-ministro. Se Durão Barroso, Santana Lopes ou Sócrates conseguiram…
Assim chegámos a esta situação de um qualquer marmanjo que nunca tenha feito nada de interessante na vida, poder ambicionar as rédeas de um partido ou mesmo do país. Olhemos à nossa volta e fixemo-nos nas bancadas de todos os partidos que têm assento na Assembleia da República: os exemplos não faltam. É só meter os nomes… Posto isto, vamos ao que motiva este editorial.
Portugal atravessa uma crise sem precedentes, vítima de uma conjectura internacional mas também e sobretudo vítima daqueles que nos têm governado nas últimas décadas. A situação é tão grave que os dois maiores partidos portugueses se viram obrigados a tentar esquecer o que os separa para se unirem no que os juntam: o interesse nacional, perante a ameaça externa.
Fizeram os partidos e os seus líderes o que lhes competia, para poderem transmitir ao mundo uma imagem de credibilidade e coesão nacional.
E eu, que não sou «socrático» e muito menos «coelhista», ainda que discordando de pontos do seu acordo, tenho que lhes reconhecer e agradecer o esforço e a coragem.
Foi, com certeza, uma opção difícil para os dois partidos e sapos vivos que ambos os líderes, Sócrates e Coelho, tiveram que engolir. Mas fizeram-no, arriscando, com o seu acto, suportar as críticas e incompreensão dos radicais, dentro e fora das suas agremiações políticas.
Feito o que era mais difícil, esperava-se que «lá fora» se reconhecesse o acto e «cá dentro» se respeitasse a decisão – o que não é, necessariamente o mesmo que não discutir os termos do acordo conseguido. E as críticas vieram, como seria de esperar, com moderação, com sentido cívico e da responsabilidade nacional.
Mas há sempre uma ovelha negra que, num rebanho, consegue ferir a harmonia, a despropósito, sem o sentido das conveniências. E, neste caso, ela surgiu, precisamente no seio do partido do Governo, aquele que tem o dever de tentar levar a nau, se não a bom porto, pelo menos a uma baía mais tranquila.
Surgiu pela voz de um dos tais «jovens turcos» do PS, um dos tais que, na adolescência, começou por distribuir auto-colantes e depois foi trepando, trepando… e que agora se acha o mais capaz para disputar a Sócrates a liderança do Partido – António José Seguro.
Quem é este Seguro? Segundo o seu próprio currículo público, aos 23 anos, já tinha chegado ao grupo parlamentar do PS, eleito no círculo de Lisboa. E tomou o gosto. A partir de 1991 foi eleito deputado, sucessivamente: pelo Porto, pela Guarda, novamente por Lisboa e actualmente… por Braga.
Pelo meio, o nosso homem chega a secretário de Estado, a ministro-adjunto do primeiro-ministro, para além de ter sido eleito para as Assembleias Municipais de Penamacor e de Gouveia.
Com tantas funções acumuladas, não admira que Seguro, em 1999, se tenha sentido cansado da política «caseira» e, pelos vistos, para desanuviar, concorre ao Parlamento Europeu, onde fica até 2001, após o que regressa a São Bento.
Vindo de um areópago onde «inovação» e «empreendedorismo» são termos imperativos, chegou, com certeza, cheio de ideias que ultrapassavam os limites da carteira de deputado.
Começa a demonstrar inconformismo e, sobretudo a partir do momento em que Sócrates foi eleito líder do Partido Socialista, a revelar uma certa rebeldia e muitos «bichos-carpinteiros», acorrendo a todos os altares onde pudesse revelar uma frase incómoda, fosse ele numa entrevista televisiva, numa tertúlia temática ou em qualquer clube de bairro onde lhe fosse facultada a evidência.
Era por demais notório que Seguro aspirava «mais alto» e era previsível que, mais dia, menos dia, iria disputar a Sócrates a sela que este cavalga. Bastava-lhe aguardar o momento em que este baixasse as defesas ou revelasse alguma fragilidade.
Só que Sócrates conseguia ir sobrevivendo a todas as investidas, das mais justas às mais profundamente infundadas ou mesmo imbecis.
Mas agora José Sócrates teve que mostrar o flanco aos seus detractores internos, ao fazer esta «aliança» com o «inimigo». Era agora! Porque se a oportunidade passasse e se Portugal conseguisse sair do beco em que está metido, o primeiro-ministro poderia ressurgir mais forte e prestigiado.
Seguro avançou um ataque: afirmou em Guimarães que só não avançou em 94 porque ainda se não sentia preparado e, numa retumbante entrevista no «Expresso» de hoje, declarou, alto e bom som, que está pronto para liderar o PS. Não mediu Seguro o alcance do que fez; não pensou que a imagem do primeiro-ministro, agora, que os olhos da Europa lhe seguem todos os passos, tem de transmitir uma aparência de segurança, tranquilidade, aceitação pública e determinação. Não pensou, com certeza, nas consequências que poderão advir, do exterior, de uma qualquer – mesmo aparente – fragilidade do chefe do Governo.
Ou se pensou - o mesmo José Seguro que, na véspera, afirmara no Conselho Nacional que "este é o momento das soluções, não é o mo-mento para fazer outros debates, nomeadamente discutir o caminho que o país seguiu para chegar a este ponto" - deixou transparecer que essa falta de tacto revela, simultaneamente, uma incapacidade para assumir, com competência, a gestão do Governo de um país que precisa, urgentemente, de sair “deste ponto”. E assim vai este nosso Portugal.
E nós, lá vamos, cantando e rindo, levados… Levados, sim! - pela incompetência que traz um país “neste ponto”: a cair de rastos, a encher de aflição as donas de casa na hora de decidirem o que comprar para o jantar.
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20 comentários:
Foi este, não foi que esteve aqui em Quarteira a convite do tal clube do rumo novo,foi um bom vento ou casamento !!!!
Bravo.
Concordo em toda a linha com o seu artigo.
Foi necessária muita coragem e sentido de estado de ambos, será urgente que os políticos comecem a governar para o pais e não para o seu próprio "quintal".
É necessário transmitir uma imagem de grande coesão interna para o exterior.
Não é de todo necessário que apareçam alguns "meninos" a levantarem-se em bicos de pés para afirmar as suas próprias ambições pessoais, disso estamos nós fartos.
isto parece o blog do pacheco pereira...
Os políticos portugueses são iguais no PS e no PSD. Comem-se uns aos outros e cada um que como o anterior acaba por mostrar que é pior que ele.
Esse Seguro vai tentar arrumar o Sócrates e está-se c....ndo para o que possa acontecer no Partido e no País.
Tal qual o que tem acontecido no PPD/PSD.
Assim é que se fala! Parabéns ao Calçadão.
Podem não ser muitos a ler mas quem o leia tem aí muita matéria para reflectir.
Paulo M. Cunha
José Lello, da direcção nacional do PS, acusa Seguro de se "estar a pôr em bico dos pés" e lamenta que "uma pessoa tão cautelosa" quanto ele se "deixe instrumentalizar". E desafia-o a avançar já no próximo congresso. "Escusa de estar nervoso, o que precisa é de estar preparado para o congresso, e se estiver preparado vai à luta. É assim que se faz no PS".
É incrível a inoportunidade da entrevista desse ambicioso!!!! Perante um momento particularmente difícil para o Governo e para o País, uma atitude destas é não apenas inaceitável como sobretudo, ASSASSINA!
Nunca apoiarei um indivíduo com tão poucos escrúpulos no meu Partido.
É de um oportunismo inaceitável e revela falta de solidariedade político-partidária e é condenável em termos de desprezo para com o interesse Nacional!
Sempre tem havido traições no PS (e nos outros também, é claro) mas nunca tinha acontecido um acto tão escabroso.
Espero que esta entrevista não vá mesmo criar dificuldades, neste momento, à liderança de José Sócrates. Senão não teria servido de nada o «sacrifício» dos dois líderes.
Por mim, esta atitude deste cavalheiro só tem uma classificação QUE É UMA GRANDE IMBECILIDADE.
Concerteza lá vamos cantando e rindo com políticos de m...... como estes!
Esse imbecil terá feito de propósito para estragar o efeito junto da União Europeia? O tipo pelo visto não se importa nada com o que aconteça com PECs ou sem PECs. Se ganha-se 1.050 euros como eu para ter de aguentar a família, se calhar não tinha tempo para tantas asneiras.
Ao primeiro anónimo que perguntou se foi este que esteve cá em Quarteira. Foi sim senhora, eu entrei lá na Junta de Freguesia e aquilo estava cheio de outros oportunistas e de tipos que não são de cá com meia dúzia de súcias que moram cá. Estava a falar um vaidozo qualquer de Faro que parcia que tinha o rei na barriga. Dava vomitos. Tem depressa entrei como saí daquele covil.
Acho uma certa piada ao Lello ao dizer a Seguro para avançar já como quem diz que o comem vivo, lá terá as suas razãoes na redalidadde o actual PS já não conta com os verdadeiros socialistas, esses, que foi o meu caso, deram de frosques porque não estavam disponiveis para colaborar com a cambada socretina composta de oportunistas e chiscos espertos, ora esses continuarão a votar no chefe que lhe dá os taxos, até quando? o desastre aproxima-se e penso que não restará pedra sobre pedra e nem António José Seguro será capqaz de colar os cacos.
Como é que um "jovem" de 48 anos, que não faz nada como deputado, que vale zero na vida política portuguesa, tem esta cobertura toda dos jornais. É a palhaçada da entrevista no Expresso, são as notícias dos jornais e aqui no Calçadão também... Bem querem promover o rapaz, que na verdade não passa de um inútil paralamentar.
Era bom que estes jornais, sempre tão ocupados a denegrir a política, analisassem no que deu a "reforma parlamentar" que o Seguro propôs e foi aprovada há uns anos atrás. Dinheiro e mordomias para os deputados (cada um passou a ter direito a um/a secretária/o pessoal) e festa para as TV e os jornais, que passaram a ter quinzenalmente os deputados aos berros com o primeiro-ministro.
O que é que o país ganhou? Zero, zero!
O que perdeu? para além de uma democracia mais desprestigiada, dinheiro a rodos para o parlamento. O "rapaz" que se cuide, senão ainda lhe fazem as contas....
Ou então entra para a lista dos palhaços que vêm ao Centro Autárquico de Quarteira fazer palestras para súcias ressaibiados.
O PS está nas ruas da amargura com tropa desta.
Mais um profissional da política. Os carreiristas imperam!
Ok , Teleseguro daqui fala a Marta
Mas quem é este pássaro? O que é que já fez ? No que é que já se dinstingiu ? Qual é o curriculum? Nemo conheço. Aí o meu cabeço. Vão mas é buscar o João Cravinho, mas isso teriam de ser as bases a fazerem através de eleições directas, porque os Barões e boyada não querem lá empata golpadas.
Então, não é claro que este sr. está a ser "preparado" para entrar em cena?...Então, não se lembram do sr. Sócrates e do sr. Santana Lopes, serem "dados a conhecer"... num programa semanal (salvo erro aos domingos) na televisão dita pública? Parece que é assim que se preparam os "actores". Mas, já sabemos que não é o fulano A ou o fulano B que vaõ alterar o que quer que seja... porque as políticas, essas são sempre dirigidas pelas mesmos, que não mudam... e não se mostram...
Seguro? Que arranje um seguro contra terceiros, ilimitado, caso embata nas traseiras do pinóquio, embora ele seja menino para lhe perdoar e assumir todos os danos...
Ainda tem borbulhas para lidar com veteranos da sucata.
Vá-se catar!
Pronto... deve ser moda pôr tudo a nu! Foi a professora de Mirandela que tirou as cuecas para os alunos verem ... a porta de saída (ou de entrada, conforme o ângulo e a idade), são os políticos género Seguro ou Passos Coelho, que sobem há custa das facadas nas costas dos outros que se despem dos disfarces que se mascaram.
Fica a nu o interesseirismo.
Seguro foi o tal que inventou a lei dos benefícios todos para deputados, não foi?
Bem, aos 3 prefiro a professora de Mirandela, os atributos dela são... mais apeteciveis.
O resto? Canalha!
Muito bem, Calçadão! Excelente post. É preciso ter a coragem de denunciar os pôdres e os oportunistas.
Continuem assim.
E parabéns ao José Carlos que ese é o José Carlos que eu penso é um socialista sério a toda a prova!
Bravo Amigos!
Será que este é pior que os anteriores? Ou tambem quer apoiar freeports,face ocultas, e outras negociatas, e usufruir imunidade, bons ordenados e poder.
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