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sexta-feira, 9 de julho de 2010

Sem força ou vontade para protestar e lutar

a única esperança que nos resta: o «euromilhões»
Imagem: Um aspecto da manifestação promovida ontem pela CGTP, em Faro
A CGTP esperava muitos milhares de pessoas; mas apenas umas centenas (?), trazidas de todos os concelhos do Algarve, desceram ontem, a passo lento, a avenida do liceu de Faro.

O calor tórrido que se fez sentir não foi apenas o que impediu as pessoas de aderirem à manifestação do «Dia nacional de protesto e luta», "contra o aumento do desemprego, a precariedade laboral e os cortes nas políticas sociais e salários".

As pessoas sentem que já não precisam de dar (mais) provas de descontentamento em relação às medidas de austeridade anunciadas pelo Governo.

Mais do que isso: sentem que não há outro caminho; sabem que de nada lhes vale mais-grito-menos-grito. Se não há dinheiro, se não há empregos para distribuir, não serão as manifestações que lhos vêm trazer.

Ainda pior que isso: sentem que os que os incitam e promovem a irritação contra o Governo não têm soluções e apenas os move o desejo de exposição pública ou a vontade de ascenderem aos lugares que outros ocupam no poder.

Assim, ao contrário dos movimentos congregadores, apenas se vai cimentando o descrédito, a conformação – e não a força para lutar contra a corrente.

Todos sabemos que "o trabalho é o direito, sem ele nada feito"; todos reconhecemos que "é preciso, é urgente uma política diferente".

Mas olhamos à nossa volta e aqueles que mais criticam e nos incitam não nos apontam caminhos seguros, caminhos de esperança capazes de criar dinâmicas potenciais de vencer os interesses de especulação que esmagam, actualmente, os direitos das pessoas.

É tempo de o leque de políticos e de aspirantes aos lugares dos instalados perceberem que o que o povo precisa é de soluções.

Por isso, não se pode estranhar que os farenses, ontem, nem sequer se detivessem para apreciar o espectáculo de «cor e som» que lhe era proporcionado por meia dúzia de gatos-pingados arrebanhados para um passeio ao sol.

A culpa é dos demagogos: de uma ponta à outra do espectro político – dos extremos ao centro, das oposições ao Governo. Não temos em quem acreditar.

Resta-nos uma esperança: como hoje é 6ª feira, vamos lá arriscar umas migalhas no «euromilhões».
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