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sábado, 2 de agosto de 2008

Antologia

finados

Silêncio! Escuta: Uma. Duas.
Estão desertas as ruas,
o vento calou-se… Três.
Sonham nas campas, talvez
Quatro. Cinco. Seis… os mortos,
imóveis, hirtos, absortos.
Sete. Oito… na eterna luz…
Que frio! Nove. Jesus!
Lá vêm os fantasmas… Dez.
Onze… aos milhares, não vês?
Que nuvem! Não tem limites…
Doze…
----------Silêncio!
---------------------Não grites!
Conde de Monsaraz, 2 de Novembro – à meia noite (Últimas Poesias)

António Macedo Papança (Conde de Monsaraz) nasceu em Reguengos de Monsaraz, em 20 Julho de 1852 e faleceu em Lisboa, em 17 Julho de 1913.
Filho de uma abastada família alentejana, formou-se em Direito na Universidade de Coimbra. Eleito deputado, foi agraciado com o título de conde de Monsaraz o que fez com que, com o advento da República se tenha exilado em Paris.
Voltou para Portugal em 1913, ano em que morreu. O pequeno poema que hoje vos apresento, é dessa época; e bem poderia ter lugar na sua «Lira de Outono».

A sua poesia é, nas linhas gerais, moldada pela escola parnasiana, aliando uma grande preocupação formal com uma eloquência por vezes um tanto retórica, que pode atingir momentos de certo dramatismo, fruto da influência que terá recebido, ainda em Coimbra, de João Penha («Crepusculares» - Coimbra, 1876). Mas, a partir de dada altura regista-se-lhe uma alteração de es-tilo, a denotar influência de Cesário Verde, de quem era amigo.
Versejador fácil, o conde de Monsaraz não se salienta, por uma grande originalidade, nem de temas nem de processos. Numa das últimas obras, «Musa Alentejana», dá-nos, porém, toda a medida do seu talento: sensibilidade toda voltada para o exterior, sensual e optimista, é na pintura das pequenas cenas campestres e familiares, na descrição dos montes, dos trigais e dos rebanhos do ambiente natal, que este poeta encontra o justo acento do seu lirismo. O Alentejo, visto do ângulo complacente de um rico senhor da terra, é-nos dado na pobreza e resignação dos homens, nos costumes particulares, na mudança das estações e na sua perenidade. Servindo-se de imagens naturalistas, descreve minuciosamente a atmosfera própria da terra a que se sente tão ligado, podendo, deste modo, integrar-se na corrente nacionalista do primeiro quartel do século XX, que, procurando fazer reviver os valores menos contaminados da nossa cultura, inspirou os poetas do Integralismo Lusitano, particularmente António Sardinha.
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