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domingo, 17 de agosto de 2008

Antologia

pretextos para fugir do real

A uma luz perigosa como água
De sonho e assalto
Subindo ao teu corpo real
Recordo-te
E és a mesma
Ternura quase impossível
De suportar
Por isso fecho os olhos
(O amor faz-me recuperar incessantemente o poder da
provocação. É assim que te faço arder triunfalmente
onde e quando quero. Basta-me fechar os olhos)
Por isso fecho os olhos
E convido a noite para a minha cama
Convido-a a tornar-se tocante
Familiar concreta
Como um corpo decifrado de mulher
E sob a forma desejada
A noite deita-se comigo
E é a tua ausência
Nua nos meus braços
*
Experimento um grito
Contra o teu silêncio
Experimento um silêncio
Entro e saio
De mãos pálidas nos bolsos
ALEXANDRE O’NEIL - “Poesias Completas -1951/1981”
.
Alexandre Manuel Vahia de Castro O'Neill de Bulhões (1924 - 1986 ) nasceu em Lisboa, em de Dezembro de 1924.
Da infância, disse uma vez Alexandre, guardar apenas breves recordações de um menino triste e fechado, a espreitar a Rua da Alegria dum quarto andar; onde recebia as visitas breves e marcantes da avó Maria O’Neill, escritora, sufragista, feminista, vegetariana e dedicada à causa espírita. Nas férias, a família mudava-se para Amarante, terra natal da mãe, Maria da Glória, onde o jovem Alexandre conheceu Teixeira de Pascoaes.
Após o ensino secundário interrompido, frequentou o curso de pilotagem da Escola Náutica em Lisboa, mas, por causa da sua miopia, foi-lhe recusada a cédula marítima. Completou, então, como aluno externo, o Curso Complementar de Letras do Liceu.
Em 1948 com Mário Cesariny, António Pedro, José-Augusto França, Vespeira, Moniz Pereira, António Domingues e Fernando de Azevedo, integra o Grupo Surrealista de Lisboa, onde se estreou literariamente com o poema gráfico “A Ampola Miraculosa”. Em 1951, já afastado daquele movimento mas a cuja experiência ainda então se refere, publica a primeira colectânea de poemas, Tempo de Fantasmas, a que se seguiriam dez outras, a última das quais no ano da sua morte, bem como dois volumes de narrativas. Em 1978 escreveu «Jesus Cristo em Lisboa», em parceria com Mendes de Carvalho, tragicomédia inspirada na peça homónima de Raul Brandão e Teixeira de Pascoaes. Em 1982 recebeu “ex-aequo”, o prémio da Crítica de Literatura, da Associação Internacional de Críticos Literários.
Colaborou na década de sessenta nos suplementos literários Vida Literária, do Diário de Lisboa, e Cultura e Arte, d’O Comércio do Porto, e dirigiu com Palma-Ferreira e Carlos Ferreira a revista Critério (1975-1976
Permanentemente inconformado, seria hóspede, por várias vezes, nos cárceres da PIDE, a polícia política de Salazar.

Morreu em Lisboa a 21 de Agosto de 1986, vítima de um acidente cárdio-vascular cerebral, após internamento hospitalar prolongado.
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