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sábado, 23 de agosto de 2008

Antologia

------- dois poemas de despedida

Tenho a certeza
De que entre nós tudo acabou.
- Não há bem que sempre dure,
E o meu, bem pouco durou.

Não levantes os teus braços
Para de novo cingir
A minha carne de seda;
- Vou deixar-te, vou partir!

E se um dia te lembrares
Dos meus olhos cor de bronze
E do meu corpo franzino,
Acalma
A tua sensualidade
Bebendo vinho e cantando
Os versos que te mandei
Naquela tarde cinzenta!

Adeus!
Quem fica sofre, bem sei;
Mas sofre mais quem se ausenta!

************************

Meu amor, na despedida,
Nem uma fala me deu;
Deitou os olhos ao chão
Ficou a chorar mais eu.
Demos as mãos na certeza
De que as dávamos amando;
Mas, ai!, aquela tristeza
Que há sempre neste "Até quando?,"
- Numa lágrima surgiu
E pela face correu. . .
Nada pudemos dizer,
Ficou a chorar mais eu.

ANTÓNIO BOTTO, (1847 / 1947)

António Tomás Botto, poeta e contista, nasceu em Concavada, Abrantes, em 17 de Agosto de 1897, e passou a infância no bairro de Alfama, em Lisboa. Emigrou para o Brasil em 1947, onde veio a falecer, atropelado, no Rio de Janeiro, em 16 de Março de 1959, na mais dolorosa miséria.
É mais um dos autores com ligações estreitas ao «Grupo Modernista», que tenho procurado divulgar ultimamente.
Foi um dos mais originais e polémicos escritores portugueses celebrado pela agitada apreensão da 2ª edição das «Canções», cuja primeira publicação acontecera em 1922, que, pelo seu carácter abertamente homossexual, causou grande agitação nos meios religiosamente conservadores da época, e cujas edições, sucessivamente, reviu e aumentou.
Integrado no primeiro grupo modernista, de Almada Negreiros, Sá-Carneiro e Fernando Pessoa, deixou uma extensa obra que o individualiza claramente.
Sendo homossexual assumido, a sua obra, no seu conjunto, será, provavelmente, o mais distinto conjunto de poesia homoerótica de língua portuguesa.
Os seus restos mortais foram trasladados para o cemitério do Alto de São João, em Lisboa, em 1966.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ai se o censor Seruca descobre aqui o Botto!!!
O que vale é que não acredito que o seu poder censório seja capaz de atingir o Calçadão.

Agora, mais a sério, quero felicitar a professora Ana Maria pelas escolhas e coerência dessas escolhas.
A sua longa ausência fez-se sentir, sabe?

Com amizade e admiração.

C.R.

Anónimo disse...

Grande coragem ser assumido há 50 anos atrás!