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domingo, 31 de agosto de 2008

Antologia

maternidade
Tela de Almada Negreiros. igualmente intitulada «Maternidade» (1935)
Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não ----------------------------------------------------------------------------- viajei!
Traz tinta encarnada para escrever estas coisas!
Tinta cor de sangue, sangue verdadeiro, encarnado!
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de ------------------------------------------------------------------------ viagens!
Eu vou viajar. Tenho sede!
Eu prometo saber viajar.
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa.
Depois venho sentar-me a teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens,
aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei,
escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa na nossa casa.
Como a mesa. Eu também quero
Ter um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a ---------------------------------------------------------------------------- mesa.
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!
ALMADA NEGREIROS (1893-1970)

José Sobral de Almada Negreiros nasceu em S. Tomé, em 7 de Abril de 1893 e faleceu em Lisboa, no dia 15 de Junho de 1970.
Filho de um tenente de cavalaria que foi administrador na antiga colónia portuguesa de São Tomé, veio viver para Portugal em 1900, logo depois da morte de sua mãe, e o seu pai, tendo de ir prestar serviço em Paris, entregou-o ao cuidado dos jesuítas no Colégio de Campolide, transitando depois para a Escola Internacional de Lisboa, após uma breve passagem pelo Liceu de Coimbra.
Nessa escola publica o seu primeiro desenho na revista «A Sátira» e publica o jornal manuscrito «A Paródia», de que é o único redactor e ilustrador.
É ainda nessa escola que, em 1913, apresenta a sua primeira exposição individual composta de 90 desenhos, travando, então, conhecimento com Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro.com quem edita a Revista Orpheu.
Artista multidisciplinar, pintor, escritor, poeta, ensaísta, dramaturgo e romancista, fica assim ligado ao grupo modernista.
Quando Júlio Dantas, médico, jornalista e dramaturgo, afirma que a Revista Orpheu.é feita por gente sem juízo, Almada responde com o «Manifesto Anti-Dantas», onde escreve: “…uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d’indigentes, d’indignos e de cegos, e só pode parir abaixo de zero! Abaixo a geração! Morra o Dantas, morra! Pim!".
O manifesto teve impacto no meio artístico, pois é um sinal de que é tempo de mudar as mentalidades, a sociedade e a cultura burguesa instituída e os seus representantes.
Vai viver para Paris em 1919, onde permanece cerca de um ano e onde escreve a «Histoire du Portugal par coeur».

Em 1927 vai para Espanha, onde colabora com diversas revistas e escreve «El Uno, Tragédia de la Unidad», obra dedicada à pintora Sarah Afonso, com quem viria a casar.
Nacionalista convicto, já regressado a Portugal, colaborou com o Secretariado da Propaganda Nacional que irá organizar mais tarde a exposição «Almada – Trinta Anos de Desenho». O SPN viria ainda a atribuir a Almada Negreiros o Prémio Columbano pela sua tela intitulada «Mulher».
A partir daqui, Almada dedica-se principalmente ao desenho e à pintura e os seus últimos trabalhos, já com 75 anos, foram o painel «Começar», na Fundação Calouste Gulbenkian e os frescos da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra.
Almada Negreiros, morreu em 14 de Junho de 1970, de falha cardíaca, no mesmo quarto do Hospital de São Luís dos Franceses, onde também tinha morrido ------- Auto-retrato de Almada ------- Fernando Pessoa.

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