A discussão sobre a introdução de portagens em SCUT passou ontem na Assembleia da República, e agora a respectiva comissão terá de decidir entre as propostas que estão em cima da mesa, entre as quais as que prevêem a isenção em algumas zonas do país ou para alguns utilizadores.
No Algarve, «habituámo-nos» a circular, sem pagar, numa via rápida a que uns chamam auto-estrada (mesmo faltando-lhe algumas das características das auto-estradas), outros chamam Via do Infante, outros a SCUT do Algarve e, outros, simplesmente A 22. E só de uma coisa podemos estar certos: as «borlas» vão acabar. Por via da crise, por via da «moralidade». Por via da baixa política, sobretudo.
E a estupefacção continua.
Em declarações à Lusa, Macário Correia disse esperar "que o PSD impeça a introdução de portagens no Algarve", uma vez que essa “é a linha de coerência com aquilo que foi prometido no passado”, nomeadamente na campanha eleitoral de Setembro.
Macário não percebe agora que é o seu próprio partido que ameaça o Governo (quando Sócrates, para cumprir o que prometeu, quis que a Via do Infante ficasse de fora): ou pagam todos, ou não paga ninguém.
Em Portimão, Manuel da Luz ameaça o Governo do seu partido com uma providência cautelar (?) e a Assembleia Municipal de Portimão aprovou, na sua última reunião, moções do PS, BE e CDS-PP, todas contra a introdução de portagens na Via do Infante.
Dizem os socialistas que “à falta de ideias inovadoras, o PSD nacional retira do seu velho baú, pela boca dos seus líderes máximos, uma iniciativa de feição neo-liberal, tão rasgada e pronta quanto é a da aplicação universal de portagens”.
Dizem os bloquistas que o pagamento é uma medida socialmente injusta porque “não permite um combate eficaz às assimetrias socioeconómicas e regionais”.
Afirmam os centristas que “introdução de portagens na A22 terá um considerável efeito negativo na mobilidade dos algarvios e dos turistas que nos visitam, mas sobretudo nas actividades económicas da região”.
Os eleitos do PSD em Portimão… esses não dizem nada, para não «parecer mal» a Passos Coelho, que quer que Sócrates imponha a medida para que ele próprio, quando for Governo, já não tenha de o fazer.
Mas, pelo que outros autarcas laranja afirmaram, é evidente que também lhes não «sabe bem» ter de esportular.
Todos, no fundo, estão de acordo: pagar é «imoral»!
Afinal, ninguém pensa no óbvio: e os que não usam as auto-estradas e SCUTs? Os que nem sequer têm carro? Não pagaram todos a construção das vias onde todos circulam? Isso já é «moral»?
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2 comentários:
Caro Lourenço,
Desculpe lá rebater esse seu argumento. Mas eu não recebo Rendimento Social de Inserção (por enquanto...)e estou totalmente de acordo em pagar impostos para que a redistribuição seja feita em prole de quem recebe. Só lhe queria dizer que antes da construção da Via do Infante, eu não ia para Portimão, ou até a Lagoa, porque não queria ficar preso no transito duas horas a tentar atravessar Pera. Acho que os Algarvios não se podem esquecer disso. O Algarve para mim, nessa altura... era... o centro do Algarve...
Abraços e desculpe lá a discordãncia.
João Martins
Caríssimo João:
É sempre um prazer debater as ideias consigo.
Neste caso, devo dizer-lhe que concordo com o seu ponto de vista que, de certo modo, nem sequer contraria as minhas proposições.
A minha intenção não é, ao contrário do que possa parecer «doutrinar» ninguém. O que eu pretendo, duma forma geral, é deixar matéria para a reflexão das pessoas, tão pouco habituadas a ponderar seriamente os problemas.
Com essa intenção, numa quixotesca atitude, tenho aqui, com alguma frequência defendido até argumentos que divergem das minhas próprias convicções. (Quixotesca e até talvez inútil, uma vez que as pessoas preferem comentar patetices, assuntos de ca-ra-ca-cá, e privilegiam mesmo a troca de insultos – e só eu sei a quantidade deles que tenho de eliminar – a discutir e comentar assuntos «sérios», problemas que nos dizem respeito a todos nós e ao futuro do país e dos nossos vindouros.
Mas, como se me meteu na cabeça que o ‘Calçadão’ poderá contribuir de algum modo para ajudar as pessoas a pensarem pela sua própria cabeça, vou continuar a insistir. Até que um dia me farte de assoprar ao vento.
De resto – e voltando ao seu comentário - eu também estou de acordo em pagar impostos (ainda que tenha de confessar que cada vez me é mais difícil fazê-lo).
Só o que me chateia, devo confessar, é que não me expliquem por que carga de água a banca e o chamado «grande capital» paga proporcionalmente menos impostos que eu. Afinal, nesta quinta, os animais são todos iguais, ou uns são mais iguais que outros?
Por mais que leia, por mais que oiça os «sábios» da finança argumentar na TV, não consigo chegar a uma conclusão.
Quanto à «base» da notícia, caro João, estamos condenados: vamos lá passar essas duas horas a atravessar Pêra! Ou, em alternativa, a partir de Janeiro… é pagar na CCUT e não bufar. Pedro P. Coelho manda e Sócrates obedece!
Um abraço
L.A.
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