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- desde o dia 14 de Junho de 2007

domingo, 4 de novembro de 2007

MOMENTOS CÁUSTICOS

o estilo é o homem

O meu amigo P., conspícuo moço, que com o seu poucochinho de miolo tem sabido fazer a vida lindamente, lembrou-se, há dias, de lançar sobre a minha obscuridade o olhar comiserando, e d’amerciá-la com algumas palavras de louvor, alternadas por outras tantas condicionais, ponderativas e paternas.
Abordando-me na rua, findo o jantar, depois de me pôr fraternalmente a mão no ombro e de me anediar o pêlo com alguns diminutivos carinhosos, começou a desfazer-se em lástimas sobre a minha falta de jeito para a vida, acolchoando esses lamentos de conselhos que eu deveria seguir para, com brevidade, romper a laboriosa miséria em que vegeto.
Depois de me conceder algumas aptidões plumitivas, que eu agradeci esforçando-me o possível por ter um rubor colegial na face cândida, começou ele por verberar a minha
desorientada maledicência, filha duma misantropia feroz que me não deixava servir um grupo, nem ter fé num credo, nem aceitar por bom nenhum trabalho feito. Retrato desta deliquescência interna, o estilo em que eu escrevia, áspero, desagradável e servido, muitas vezes, por um vocabulário de carroceiro.
Como o estilo é o homem, inferia o meu querido P. pela minha soltura de língua, o desescrúpulo moral impróprio dum espírito elevado, e nada atinente às minhas aspirações de panfletário flagelador. […].
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FIALHO d’ALMEIDA (1857 - 1911), in «Os Gatos», 16/Março/1893

A obra de Fialho é constituída, essencialmente, por artigos para jornais, posteriormente reunidos nos volumes Os Gatos (colectânea de textos publicados mensalmente, entre 1889 e 1894) e Pasquinadas (1890). O carácter fragmentário da sua prosa, mais apta à captação de impressões, revela-se igualmente na sua obra de ficção: Contos (1881) e O País das Uvas (1893).
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7 comentários:

Anónimo disse...

Aquela da Câmara estar a construir num caminho privado não lembra a ninguém. A noticia saíu no jornal mas não percebi em qual. O Quiosque da Camila refere-se a isso só não sei quando foi o acontecido. Será de agora ? Luís

Anónimo disse...

Já tinha lido qualquer coisa sobre isso não sei é se foi em Quarteira ou Loulé. De qualquer modo, num lugar ou noutro é mais uma bronca à Seruca !
Helder

Anónimo disse...

Dá gosto embora o tempo tenha modificado a foram da escrita, como de tudo o resto, ler aquele português. Muito difícil hoje fazê-lo daquela maneira nem mesmo os Professores universitários da Língua Portuguesa. Fialho de Almeida apesar de finado merece os nossos parabéns por tão bela prosa. O mesmo já não posso fazê-lo com a nossa Câmara que em mau português nos vai informando de inutilidades ao longo destes penosos anos. ELIZABETTE

Anónimo disse...

GOSTARIA DE VER PUBLICADAS AÍ NO CALÇADÃO, VELHAS FOTOS DE QUARTEIRA. É POSSÍVEL ? UM OBRIGADO. António - Loulé

Anónimo disse...

A história do caminho (estrada já pronta e alcatroadinha) é uma história velha.
O que por aqui se diz é que aquele terreno é dos herdeiros do saudoso farmacêutico Hermenegildo Piedade.
Que se saiba, a CML tem pretensões (legítimas, sem dúvida, dado que visam o engrandecimento de Quarteira) sobre aqueles terrenos.
Mas, tanto quanto sei... para já, não há conversações para negociação definitiva e, muito menos, para expropriação administrativa.
Entretanto, a CML já anunciou, há meses, a realização do Plano de Pormenor para essa área, onde se prevê (isto, do pouco que se sabe) a realização de um passeio pedonal do género do Calçadão Leste, o Mercado Municipal e um estacionamento subterrâneo.
Depois disso, a mesma autarquia lançou um concurso de ideias, de que também o Calçadão de Quarteira já deu notícias, há dois ou três dias.
Entretanto, as obras de ampliação para a estrutura portuária já começaram e foi montada uma vedação para albergar os trabalhos.
Para poder fechar completamente essa vedação, foi preciso fazer um desvio da estrada que, actualmente, vinda de Quarteira, passa em frente do Porto de Pesca.
É essa estrada (o desvio) que foi feita.
Se foi feita pela CML (parece que sim) ou pelo IPTM, ninguém (acho eu) procurou esclarecer...
Se foi feita em terrenos alheios, isso só demonstra o desprezo absoluto que a autarquia louletana demonstra pelos quarteirenses e pelos munícipes em geral.
Já o Plano de Pormenor que a mesma CML mandou fazer para onde "se diz" que vai ser construído o futuro Centro Cultural... também só parcialmente pertence ao domínio público (e nem sei se, neste momento, os tribunais já ditaram a última sentença e se tal questão já transitou em julgado) sobre o resto do terreno.
Mas, como o povo costuma dizer, sem que estas "questões menores" ("menoridade" no entender da autarquia) estejam definidas, esta não se coibe de... "fazer filhos em mulher alheia".
Será este o entendimento "moderno" de Estado de Direito...

Anónimo disse...

Não é tarefa em que me ocupe habitualmente comentar blogues. Não que, na sua maioria eles o não mereçam, pela qualidade, pelo empenho dos autores, pelo interesse social dos mesmos; não, não comento apenas por preguiça.
Desta vez, coloco dois comentários no mesmo artigo por uma simples razão: alguém tratou aqui de um assunto interessante - o que respeita ao Plano para a zona Poente de Quarteira e decidi dar o meu modesto contributo, relatando o que sei.
Mas o artigo comentado, respeita a uma peça literária de um grande autor, cuja obra muito admiro e acho que é uma pena que os comentadores passem por pérolas literárias como esta que a Ana Maria nos traz desta vez, correndo apenas os olhos, de fugida, "como cão por vinha vindimada".
Sinto pena porque vejo, com desgosto, como as pessoas se vão afastando dos valores artísticos e literários, como se eles não tivessem importância.
Realizam-se, por toda a parte fóruns de discussão disto e daquilo, muitas vezes de interesse restrito ou... muito particularizado.
Fóruns sobre literatura, pintura, cinema, teatro... são coisas doutros tempos, coisas de séculos passados.
Como tudo aquilo a que dantes se dava tanto valor e se conhecia pelo nome de "cultura geral".
Infelizmente.
Até que, daqui por uns anos, quando se falar em Fialho de Almeida, alguém (que não seja um dos raros especialistas da matéria) acabe por perguntar se não foi "aquele ponta-de-lança" que o Benfica comprou no tempo do Vale e Azevedo, ou se Ramalho Ortigão não foi o intérprete da novela Vingança...
São os tempos consequentes de uma vida passada a correr e de uma Escola que se esqueceu de explicar o significado da palavra "valores"...

Lourenço Anes disse...

P/ o Luís:

Acho que já tem as respostas todas, neste momento.


P/ o Hélder:

Está certo: parece ser “mais uma bronca à Seruca”.


P/ a Elizabette:

As escolhas literárias da Ana Maria parecem acertar sempre no alvo. Não consigo é entender por que raio de razão é que ela, volta e meia me diz que sou um “desbocado como o Fialho”.
A verdade é que eu não o acho “desbocado”. Foi sim um extraordinário utilizador da palavra, com um espírito mordaz, mas muito lúcido e certeiro…
E tem razão, Elizabette – hoje já ninguém escreve assim. Sobretudo, porque o vocabulário dos portugueses, mesmo os chamados “eruditos” vai sendo cada vez mais reduzido, abrindo excepção para a nova terminologia técnica, com que o inglês vai invadindo as nossas vidas.


P/ o António – Loulé:

Bom, meu caro António: eu não posso prometer-lhe isso. Não é vocação deste blogue e, mesmo que quiséssemos fazer-lhe a vontade, não temos um acervo de imagens capazes de lhe fazermos a vontade.
No entanto, sempre que venham ao caso, disponibilizaremos as que tivermos.


P/ o Tou-ta-Ver :

Há que tempos que não aparecia por cá, meu caro!
Agradecemos os seus esclarecimentos sobre a nova “estrada/rua/ou lá o que é”. Não veio esclarecer muito mais ao essencial: que a CML, abusivamente, executou uma obra num terreno que não é seu.
Pode vir agora o presidente da Câmara dizer que vai conversar com os proprietários.
Isso não invalida o abuso de confiança, o desrespeito. O município portou-se como não deveria: portou-se como uma “pessoa de mal”. Essa é a verdade; mesmo que, depois, venha pôr meias solas… o chinelo já mostrou o buraco.

Acerca do seu comentário sobre o trecho de Fialho de Almeida… você disse tudo. Como é seu hábito, acerta nos alvos todos, com um precisão extrema. Depois do que disse, as minhas palavras seriam demais. Por isso, me calo.