evocam, aos mais velhos, um tempo que não volta
Ainda não passaram muitos anos desde que, em Quarteira, se foi perdendo a tradição dos bailes de rua. Estes assumiam particular animação no mês de Junho, na altura dos Santos Populares. Eram os “mastros”, os bailes de São João.
Havia mastros por todos os lados. Não havia largo ou troço de rua mais alargado, que não tivesse um e alguns rodeavam-se de grande fama. Claro que a fama era efémera e advinha-lhe da popularidade e empenho do seu principal organizador ou do bom lote de raparigas que se dispunham a dançar.
Mas também noutras festividades ao longo do ano, se organizavam bailes por toda a aldeia - mais tarde, vila de Quarteira -, tanto ao ar livre, como no salão da sociedade.
Desde que houvesse um tocador de harmónio, havia baile até altas horas da noite. O corridinho era rei. Mas o corridinho castiço, tocado e dançado como no tempo dos "mastros" e não o corridinho que hoje vemos dançado pelos ranchos. Os pares pareciam automatizados, formando roda, com aqueles três passinhos laterais e dando uma ou mais voltas no final dos tais passinhos. Nunca vi o corridinho dançado aos saltos, como nos apresentam hoje...
Mas dançavam-se também marchas, valsas, o tango, fox-trot, o paso-doble e, quando o suor escorria pelo rosto dos bailadores, lá vinha uma música suave, romântica, para dar descanso às pernas e calor às almas e aos corações…
Mas tudo acabou. Ou por outra, acabaram com tudo. Começaram por exigir que se requeresse autorização. Depois licenças disto e daquilo, direitos de autor pelas músicas tocadas, remuneração aos tocadores, iluminação… tornaram-se as despesas de tal modo incomportáveis que os organizadores foram desistindo dos bailes de rua.
O baile da Rua Vasco da Gama, em Quarteira, na noite de 10 de Agosto de 2007
Este ano, em jeito de álbum de recordações, a Junta de Freguesia patrocinou uns arremedos desses bailaricos, na Rua Vasco da Gama. Mas sem a participação do povo na sua organização, sem o seu carinho e empenho, os bailes não têm passado de uma caricatura do passado.
Sem alma, sem calor, apenas evocam, aos mais velhos, as imagens de um tempo que não volta.
As novas gerações, essas ignoram, simplesmente.
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