já fizeram uma visitinha

Amazing Counters
- desde o dia 14 de Junho de 2007

domingo, 15 de março de 2009

Antologia

cantiga de abril
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Quase, quase cinquenta anos
reinaram neste país,
e conta de tantos danos,
de tantos crimes e enganos,
chegava até à raíz.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Tantos morreram sem ver
o dia do despertar!
Tantos sem poder saber
com que letras escrever,
com que palavras gritar!

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Essa paz de cemitério
toda prisão ou censura.
e o poder feito galdério,
sem limite e sem cautério,
todo embófia e sinecura.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Esses ricos sem vergonha,
esses pobres sem futuro,
essa emigração medonha,
e a tristeza uma peçonha
envenenando o ar puro.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Essas guerra de além-mar
gastando as armas e a gente,
esse morrer e matar
sem sinal de se acabar
por política demente.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Esse perder-se no mundo
o nome de Portugal,
essa amargura sem fundo,
só miséria sem segundo,
só desespero fatal.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Quase, quase cinquenta anos
durou esta eternidade,
numa sombra de gusanos
e em negócios de ciganos,
entre mentira e maldade.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Saem tanques para a rua,
sai o povo logo atrás:
estala enfim, altiva e nua,
com força que não recua,
a verdade mais veraz.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.


Com uma dedicação "às Forças Armadas e ao povo de Portugal
"Não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade"
- JORGE DE SENA

Jorge Cândido de Sena, nasceu em Lisboa, em 2 de Novembro de 1919 e morreu em Santa Bárbara, nos Estados Unidos, em 4 de Junho de 1978.
Poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário, era licenciado em engenharia civil mas dedicou-se à carreira de escritor, actuando como intervencionista político-pedagógico-cultural.
Tinha um posicionamento político livre e denunciador, que lhe acarretou perseguições políticas durante a ditadura salazarista, o que o forçou a exilar-se no Brasil em 1959 e, posteriormente, nos Estados Unidos da América, onde veio a falecer.
Foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique, por serviços prestados à comunidade portuguesa e recebeu, postumamente, a Grã-Cruz da Ordem de Santiago.
Foi um dos maiores intelectuais portugueses do século XX.A sua obra de ficção mais conhecida é o romance autobiográfico Sinais de Fogo.

1 comentário:

Anónimo disse...

A Liberdade que escreveu
meu querido Jorge de Sena
a cor que tinha se perdeu
e eu chorei de tanta pena

não é vermelha nem verde
é cinzenta talvez preta
as linha que hoje escrevo
com a pena da minha caneta