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sábado, 26 de julho de 2008

Antologia

-------------- a délia

Lembras-te, diz, ó Délia, do momento
-------- Que aos teus formosos lábios
Voou dos meus o filho de Ciprina?
-------- Acaso não sentiste
Abrir-se um céu de amor para nós ambos?
-------- Não te bateu no peito
Ansiado o coração de gozo arfando?
-------- Tenro menino que ele er,
Tímido ainda, envergonhado infante:
-------- Quanto depois, ó Délia,
Cresceu de ousado, e se atreveu a quanto!
-------- Quais penetrou sacrários!
De virgíneo pudor que véus teimosos
-------- Não ergueu confiado!
Os prazeres o sabem, e a ventura
-------- Que nos teve no colo…
Eles que o digam – dêmos-lhes licença;
-------- Que o ensinem àqueles
Que tanto como nós inda se amarem,
-------- Se é que os houver no mundo.
Angra, Junho 1821
Almeida Garrett

João Baptista da Silva Leitão e mais tarde visconde de Almeida Garrett, nasceu no Porto em 4 de Fevereiro de 1799 e terminou os seus dias em Lisboa em 9 de Dezembro de 1854.
A vida de Garrett foi tão apaixonante quanto a sua obra. Revolucionário nos anos 20/30 do século XIX, foi Par do Reino, ministro e secretário de Estado honorário. Orador de palavra e reciocínio rápidos, este dramaturgo romântico foi o grande impulsionador do teatro português, propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria e a criação do Conservatório de arte dramática.
Enquanto isto tudo, Garrett distinguia-se como o tipo perfeito de janota, tornando-se árbitro de elegâncias e príncipe dos salões mundanos. Foi um homem de muitos amores, uma espécie de homem fatal. O poema que acima se transcreve foi um dos muitos que dedicou a Delia, seu grande amor.
Na poesia, Garrett foi um inovador: as duas colectâneas publicadas na última fase da sua vida (Flores sem fruto (1844) e Folhas caídas (1853) introduziram uma espontaneidade e uma simplicidade praticamente desconhecidas na poesia portuguesa anterior - ao lado de poemas de exaltada expressão pessoal e onde os subentendidos conseguem, por vezes torná-los inteligíveis para os menos atentos, surgem pequenas obras-primas de singeleza ímpar da poesia popular quando não das cantigas medievais.
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