os gajos sem a 4ª classe
podem fazer coisas porreiras
Meu caro José Sócratespodem fazer coisas porreiras
Ontem mesmo li na primeira página do «Diário de Notícias» que um terço dos investidores na Bolsa só tem a 4ª classe. Fiquei indignado. Indignado porque aquela palavras - «só» - é claramente abusiva e dá a entender que neste país onde eu sobrevivo e tu governas, há gente com poucas habilitações para jogar na Bolsa.
Ora, já não há! Havia, mas veio o programa «Novas Oportunidades» que, a juntar a certas e determinadas Universidades cujo nome não vou aqui citar por falta de tempo, terminou com o analfabetismo real e funcional e tornou-nos a todos um país de doutores e engenheiros… ou quase.
E repara que essas cassandras que põem o «só» no artigo se esquecem das inúmeras coisas que gente sem a 4ª classe fez pelo país. Exemplos são a pontapé:
- D. Afonso Henriques não tinha a 4ª classe e fundou Portugal, além de ter conquistado Lisboa aos mouros;
- D. Diniz, também não a tinha e fez o Pinhal de Leiria e a Universidade de Coimbra, a qual nem sequer dava cursos à noite, na altura;
- D. Henrique fundou a Escola de Sagres sem ter escola nenhuma onde tivesse obtido o diploma da 4ª. classe.
(…) Por isso, caro José Sócrates, numa visão mais ou menos holística da coisa, um povo que, sem a 4ª classe, realizou tanta coisa pode fazer, pelo menos, o dobro depois de ter sido abençoado com as «Novas Oportunidades». Podemos fazer coisas porreiras, pá, como o Tratado de Lisboa, caso os irlandeses não consigam dar cabo da coisa.
Mas ainda há muito para fazer! Havendo gente com a confiança e com a coragem suficiente para, com apenas a 4ª classe, pensar que pode ganhar na Bolsa, há seguramente muita gente por aí a pensar que podes ganhar com maioria absoluta. Independentemente das habilitações que eles e tu possam ter.
Aceita um abraço deste teu
Comendador Marques de Correia
in «Única», revista do «Expresso» de 19/Jul/08
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