A noite de ontem estava calma, fresca. Um agradável serão de Sábado, um tempo apropriado para saborear um refresco ou um café na marginal de Quarteira.
Muito mais gente do que nos dias anteriores, de cá para lá e de lá para cá.
Chega uma mulher jovem, (mal) pintada de palhaço, (mal) vestida a fingir de palhaço, um copo de plástico na mão. Passa de mesa em mesa, metendo o copo diante do rosto de cada um de nós… Logo a seguir, uma jovem; 15 ou 16 anos, roupa cingida, tez escura, trança negra, mão estendida. Como é possível?!
Minutos depois, surge um indivíduo de negro vestido, estojo de violoncelo às costas. Depois outro, com um violino… mais dois…
Aos poucos, o grupo forma-se: uma tuna, não interessa de que universidade. Capas no chão, cravadas de mil emblemas sem sentido: modas sem justificação de que um pateta qualquer se lembrou e que, ao longo das três últimas décadas, se cristalizou. Hoje, eles não sabem, o significado de um emblema, de um rasgão na capa, de um pequeno troço que se rasga para oferecer a alguém, que o guardará até à morte.
Os moços sacam dos instrumentos. Uns minutos para afinar, e um monte de passantes que vai formando semicírculo.
Começa a exibição: música sul-americana, sevilhanas, uma canção pimba que já ninguém escuta, umas “coisas” esquisitas, sem sequência lógica ou aparente significado, A tuna toca… por tocar. Só isso.
Admitimos: “Bem: fica a boa-vontade. Deve ser parte da diversão que Seruca Emídio disse ser abundante neste ‘calçadão’ e neste verão”… E a palhaça? E a pedinte? Também farão parte desse programa de animação que a Câmara de Loulé nos reservou?
A desilusão maior viria em seguida: do grupo sai um dos moços e depois outro. Trazem molhos de CDs nas mãos. Atrevidos, sem pudor, abeiram-se de nós.
- Não quer comprar o nosso cd? Vá lá… vá lá, compre lá…
Que saudades, meu Deus, do tempo em que a nossa tuna tocava por prazer, por amor à música, à confraternização, em dia de festa; ou em noite de serenata, quando o coração de um dos nossos começava a sangrar, pelos olhos fatais de uma colega!…
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3 comentários:
Havia de haver alguém que explicasse aos moços da Tuna que uma Tuna é muito mais do que aquilo que foi descrito. Evidentemente que nos tempos antigos com as proibições,com a miséria havia mais criatividade. Mas longe vá o agoiro, disso não temos saudades. Quanto à autarquia Louletana gasta fortunas em propaganda por tudo e por nada. Há tempos alguém que distribuía folhetosda Câmara deu-me uns quinze pra mão. Era a despachar. É um esbanjamento. Depois vai-se ver e pouco sobra. Agora cá temos a feira do artesanato ( sempre igual) a criatividade não passa por aqui.
E enfim. A seguir deve vir aquela maravilha do Carnaval à noite sem graça e com a alegria forçada da música brasileira. Tudo muito pobrezinho para quem tem rios de dinheiro. Octávio
Naquele Calçadão é uma vergonha, tudo a pedir. A gente senta-se num café e somos invadidos por um enxame de pedintes, ciganos, mulheres, gente que tem bom corpo para trabalhar e manda as crianças pedirem para ver se as pessoas se comovem. Uma vergonha para Quarteira que a gente não vê, por exemplo, nem em Albufeira nem em Portimão, nas zonas das esplanadas.
As autoridades não podem fazer cá bnada? então porque é que só acontece aqui?
E os arrumadores? quem tenta acabar com essa praga que faz tão má imagem para os forasteiros e incomoda os Quarteirenses?
P/ o Anónimo Octávio:
É difícil, Octávio. Era preciso que os moços tivessem recebido, em casa e na escola, noções de cidadania, princípios éticos e civilizacionais.
Não é apenas uma questão de “criatividade” (porque eles não criam – macaqueiam) não é apenas uma questão de “princípios” – eles não entendem que a sua função no mundo social não pode assemelhar-se às dos grupos peruanos e chilenos que sobrevivem com duas “gaitadas” nas ruas das cidades ou nos corredores dos metros.
A sua atitude reflecte o estado da sociedade actual, onde é mais fácil esmolar do que trabalhar, onde é preferível viver de subsídios do que procurar o mérito. É um triste (muito triste) retrato da actual sociedade portuguesa (só?).
O segundo aspecto de que fala, a propaganda e a falta de criatividade da “autarquia louletana”… olhe: eu nem sei se o que disse anteriormente se não aplica aqui, na perfeição. Com efeito, a mediocridade procura esconder-se como o lixo debaixo do tapete – com publicidade abundante e vistosa. É mais cómodo mandar fazer publicidade do que tentar criar, inovar… merecer. E não se procura “merecer”. Deixa-se andar… e depois é essa a mediocridade que nos oferecem.
Disse bem, Octávio: “tudo muito pobrezinho, para quem tem rios de dinheiro”.
P/ Mário B. :
Não vou repetir os argumentos anteriores… Ao cidadão comum, resta a estupefacção, o protesto. Aos escroques sociais, chega-lhes estender a mão.
Olhe, ainda ontem à noite eu comentava, em família, que não estávamos em condições financeiras para irmos jantar ao restaurante, já que, a certa altura do mês, temos de contar os tostõezinhos muito bem para conseguir que o essencial nos não falte até à chegada do ordenado. E, logo a seguir, demos de caras com uma família que vive do “rendimento social” abancada numa esplanada da nossa marginal, a regalar-se com uma bela refeição, bem acompanhada e regada…
Provavelmente, os filhos ainda andariam pelo calçadão mendigando uma moedinha…
É assim. Que havemos de fazer?
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